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Mostrando postagens de maio, 2011

Só.

Eu ouvi aquele ruído chato. Aquele ruído chato que mais parecia minh'alma gritando. Minh'alma é mais bonito que minha alma, pois é um só. Sozinha, me sinto cada vez mais estranha. Minha cabeça pesa. Não sei mais se estou sendo, acho que não. Meu sorriso não aparece mais aleatoriamente. Estou séria em frente ao que escrevo, dentro disso, longe daquilo. Escrevo tão alienada, tão alienada, que não sei bem o que digo, ou se deveria dizer. Estou triste, é isso. E olho ao redor, - e detesto começar uma frase com "e olho ao redor", não pergunte o motivo - e sei que não é bem assim. Mas minha cabeça pesa. E eu me sinto pesada, as coisas voltam a não ter mais tanta graça. Eu não gosto de andar sem rumo, desse jeito. Só no literal. Em mente, não. Quero que meus pensamentos tenham rumo, que eu saiba o que fazer, que eu tenha certeza do que quero fazer, que eu seja mais simples - só hoje. Mas hoje é amanhã, já já. Tarde pra pedir hoje pra hoje. Quereria dizer, realmente, tudo e t

-

Jogada, cabelos no rosto, visão embaçada. Ela estava jogada em um canto da calçada, da rua deserta, mas cheia de gente. Ninguém se importava. Ela, jogada, cabelos no rosto, visão embaçada, parada como uma criança que olha o sol nascer pela primeira vez: ninguém se importava. Ninguém se perguntava "por que há uma mulher jogada no chão?", porque ninguém a via. As pessoas passavam lentamente, como um filme que foca no protagonista, como quem corre e deixa um vulto a cada passo: era sua visão ou imaginação? Ela não sabia lidar com aquilo. Homem com um braço na janela de um carro vermelho, óculos escuro e sorriso aberto. Criança com urso nas mãos, falando "sozinha", agarrada à mão da mãe. Mãe com blusa preta, saia vermelha, saltos-não-feitos-para-ela, andando rápido pela calçada esburacada. Filha seguindo, com urso na mão. Filha correndo, conversa com urso, olha para urso, não olha mais nada. Mãe olha para tudo. Ele, rua da frente, blusa azul listrada, cigarro na mão dir

Borboleta.

Era uma borboleta. Ela não sabia sair do casulo. Até saía, olhava o que acontecia ao redor, e fechava-se de novo. Ela saía com dificuldade: borboleta não sabia lidar com isso. Sim, era casulo. Ela tinha veneno guardado, só pra se chamar "borboleta venenosa". "Natureza me deu veneno só pra me chamar de venenosa" Pensava. Sim, borboleta pensava, também. Com palavras e tudo o que os humanos usam para complicar o pensamento. O pensamento por si próprio já era suficiente, mas não... Um dia, borboleta foi ao médico. Ele receitou um remédio que deveria ser tomado trinta minutos antes do almoço. Ela logo se assustou. Não havia problema em tomar remédios, mas ela teria que contar trinta minutos antes do almoço. Borboleta detestava esperar, e detestava mais ainda ter que não ser mais surpreendida quanto ao horário do almoço. Sim, ela sabia que iria almoçar, mas ela não queria saber a hora. Mas, agora, era obrigada a saber! Borboleta não sabia lidar com isso. Presa em seu casu

Zero hora.

- Você perdeu muito da sua timidez, mas eu sempre te reparei um pouco envergonhada, quieta. - É, no fundo, eu ainda sou um pouco tímida - Falou, sem olhar em seus olhos, com ironia. Porém, ela mesma sabia, dentro de si, que isso era verdade. Nem olhar nos olhos dele pôde. Por timidez e por mentira. Ele, que não era bobo, nem havia nascido no dia anterior a aquele, calou-se. Mas ela doía, ela se doía, porque não sabia conter isso. Aquilo tudo doía nela, mesmo que ela soubesse a verdade. Ela queria o melhor, sim. Mas ela não sabia como tê-los: ele e o melhor. Ela não se aguenta, ela cansa. Ela cansa, sim. Ele sempre soube que ela cansaria. Dele, nunca. Da situação, sim. Tudo aquilo doía nela. - Quereria te dizer frases que começassem com "é que", eu sonhei com isso, noite passada. Mas, agora, não consigo dizer. - É que eu te amo. - Você consegue. - É que não planejei. Por isso, consigo duas vezes. - Quereria te falar coisas lindas, coisas que você ouvisse e dissesse "

Só de alegria.

Hoje, eu chorei de alegria. É a primeira vez que isso acontece. Não, não que eu nunca tenha chorado de alegria. Já chorei, sim. Mas hoje eu chorei só de alegria, mais nada. A gente sabe que alegria é um conjunto, agora. Há coisas que são tão lindas, tão lindas, que se empurram em você, como se possuíssem uma faca, e você se transforma. Você precisa jogar sua alegria pelos olhos, e eles brilham tanto, tanto. Eu me pergunto se você ainda tem as primaveras que eu tenho. E eu sei que você tem, porque quem tem quatro, tem três. Eu não sei porque usei esses números. Não foi epifania, eu senti algo novo, hoje. Eu pensei em ouvir uma música, agora. Mas quero sentir só essa alegria. Eu tenho asas, amor. Eu estou usando as minhas asas, que já foram tão escondidas. Tem coisas que não precisam ser ditas. Não por praticidade, nem por orgulho, mas porque são minhas. São só minhas, é meu egoísmo. São essas coisas pequenas que me convencem. Pequenas, digo, não em dimensão. São pequenas, porque as imag

sousoul.

E venho dizendo, repetindo infinitas vezes "não force, não se force, não force nada". Estou aprendendo a ser. Ser, apenas, o verbo em si, sem nada além. Estou sendo. Sendo, seja o que for. Sendo quem sou, mesmo sem saber muito sobre o que há dentro de mim. Eu já aprendi muitas coisas erradas, sabe? Erradas quanto a minha felicidade. Coisas que nunca me deixaram feliz. Estou tão livre, acho que estou aprendendo a liberdade. Será? Não sei, mas me sinto leve. Minha testa tem franzido menos. Estou deixando ir, estou deixando vir. Choro, quando quero. Sorrio, me deixo livre, sem celas. Não planejo o sol, não planejo o lugar para sentar, não planejo, apenas. Estou deixando que a vida me invada. Estou sendo vida, sou toda dela. Estou ao acaso, descobri isso há um tempo. E tenho me sentido tão livre, mil vezes livre. Meu nome é espontaneidade, de novo. Estou arrancando o mais profundo de mim, me doando, me. Às vezes, eu choro de saudade. Onde estão minhas crianças? Eu ainda sonho, eu

Ela.

"Cadê, querido? Cadê tudo aquilo que a gente prometeu? Cadê? Queria que você me mostrasse." Pensou. E teve medo, medo dela, dos pensamentos dela, das decisões dela, de ser tão descontrolavelmente-ela-mesma. Ela sangrava, ela se derramava em sangue, o que saía dela era do mais profundo que se poderia ir. Era quase petróleo. Se pudesse, arrancaria seu coração e o mostraria para qualquer um que cruzasse a mesma rua que a sua. Nas suas veias, tinha vida, vida desde que nasceu, vida contínua. Mas quase ninguém arrancava o próprio coração, todo mundo diz que dói. Às vezes, ela achava que queriam esfaquiá-lo, destruir, fazer qualquer coisa ruim com isso. Mas ela tinha faca, também. E dói mais esquecer que se tem um. "Fica vazio, e a gente sente quando está vazio, porque a gente não sente nada. Isso dói mais. A gente sempre..." pensou. Pensou como uma criança de dez anos, em trabalho escolar. E detestava seu perfeccionismo, de pensar com vírgulas e pausas. Mas isso era seu,

"(...)"

Ela se deslizava. Ela se deslizava toda, como se a vida fosse um escorregador, depois da chuva. E ela saía, escorregadia, descalça, pisando no mundo, e ele não pisava nela. Ela era tão pura, ela só tinha chuva, mais nada. Chovia todos os dias, andava chovendo. Ela, não a chuva. Aquela chuva-em-multidão, com tantos pés, tantas mãos, molhando tudo o que encontrasse pela frente, por trás, pelos lados. Ela se deixava molhar, seja lá do que a chuva fosse feita. Ela queria ser molhada, escorregar. Ela conheceu eles. Três. Conheceu nos livros. Ela sabia que amar em primeira pessoa era difícil, mas amar em terceira era brega. Amor é tão brega, quando são eles. Ela? Não, ela nunca se deixaria molhar por isso. Ela era primeira pessoa, e leu, em alguma página, que amar em primeira pessoa doía. Ela foi amar em terceira. Melhor brega que cansada. Então, conheceu ele. E ela descobriu o que era "piegas". Amar nunca era piegas. Foi a primeira pessoa que disse. E ela misturava, o tempo todo,

Por tanto: o casalzinho.

O casalzinho feliz está de volta. Palavras no diminuitivo, às vezes, mudam a história. A historinha. Mas não é infantil. Pode até ser, quem sabe? Eles eram doces como pirulito de criança - como se houvesse pirulito de adulto. Enfim, de volta! De volta - aos gritos - de volta! O casalzinho se olha, todas as noites, na mesma hora, 19:19h. Dizem que terás uma surpresa. Mas eles não acreditam nisso. Agora, pergunte-se: eles olham um para o outro, ou se olham no espelho? Muda? Muda, sim. Ela estava de sapatilhas brancas, com bolinhas vermelhas. Estilo joaninha-inventada. Ele usava gel. É, gel mesmo. O que era mais brega? Vamos, você decide. Eles brigavam, algumas vezes. Ela com sapatilhas, ele com gel. Ele perguntou qual a última vez em que ela chorou. Ela respondeu "quarta-feira". Em público. Chorar em público é decadente. Decadente virou sinônimo de incontrolável. Mas atores sempre fazem isso. Ela fingia ser atriz. Era atriz sozinha. "Sou atriz sozinha, sou atriz sozinha&qu

Tanto.

Porque eu jogava esperando ganhar. Se perdesse, não jogava mais. Mas, agora, aposto as cartas, e venha o que vier. Não pelo resultado, mas pelo caminho. A gente não ganha sempre, nem perde, também. Agora eu jogo porque gosto. E eu gosto de fotos. Elas sempre me dão uma sensação diferente. Eu gosto das cores, dos tons, das caras, da pose. Pose é palavra de velho, mas vou ser velha, agora. Eu gosto de ver como as mãos estão expostas, nas fotos. Quando elas são expostas, claro. Será que foi planejado? Será que foi surpresa? Por que a gente sorri, em algumas fotos? A gente quer mostrar que é feliz. Mas, às vezes, nem é. Às vezes, é. Sorrisos sinceros são os mais esperados pelos dentistas: é possível ver até os dentes que não nasceram. Por que a gente não sorri, em outras fotos? A gente quer mostrar que é triste? Mas quem disse que quem não sorri, sempre, é triste? Às vezes, nem é. Às vezes, é. A gente só sabe no olhar. Não o momento, mas a continuidade, mesmo que seja instável. Sorriso não

Eles.

Ela tinha o cabelo longo, moreno, pele branca e sorriso contraditório. Ele tinha cabelo curto, sem definição de corte, aquele-corte-que-todo-homem-tem, moreno, pele branca e usava sapatos 45. Mas seus pés eram 44. Ele sempre buscou ser maior. Ela não crescia, era Peter Pan na Terra do Nunca. Mas era Pan, mesmo. Ela era tudo em uma só. Eles eram tão felizes. Aquela felicidade que se percebe, de longe. Eles na rua oposta, felizes. Eles na mesma rua, felizes. Eles eram felizes. A gente não sabia qual era o objetivo em ser feliz. Para alguns, a felicidade alheia doía. Ah, doía, doía como criança pobre que vê criança rica, cheia de brinquedos. Não era inveja, não. Era vontade. Era sonho. Para outros, despertava fofoca. "Ah, não devem ser tão felizes, não... Sorriso aberto é sempre coração fechado" - Criavam até frases, olha. Para eles, mesmo, para o casal feliz, eles eram mais que isso. Ela matava formigas, mas não matava baratas. Ela não gostava de sorvete de casquinha, e achava

Você, eu.

Você passa anos mudando. Você emagrece. Você cresce. Você chora, você compra lenços. Você não pinta seu cabelo, você fica original. Você compra maquiagens novas. Você compra roupas novas. Você faz amigos. Você conhece pessoas. Você promete não se repetir. Você muda de ambiente. Você muda as preferências. Você se torna mais seletiva. Você compra livros novos. Você compra brincos novos. Você se tranca. Você se afasta. Você descobre. Você volta a desenhar. Você desenha de um jeito novo. Você admite algumas coisas e crenças, e a falta delas. Você se decepciona. Você sorri. Você ama sua família. Você ama seus amigos. Você diminui suas manias. Você assiste filmes novos. Você faz uma lista de filmes novos. Você sente raiva. Você se arrepende. Você se torna orgulhosa. Você age pela razão e abomina a emoção. Você deixa de ser orgulhosa. Você ouve mais sua intuição. Você aprende a se desculpar. Você aprende a aceitar desculpas. Você entende que nenhuma roupa, companhia, filmes, manias, maquiagen

In Pulso.

Acho tão mágico isso de mundo. Olhei pela janela, há alguns minutos, e vi tanto, mesmo em tão pouco. Eu vi crianças brincando, gritando, naquela natureza. Não, não falei de árvores, tigres e do rei leão. Falei da natureza própria, aquela que se desfaz com um "não" e que bate palmas o tempo todo. Sim, eu vi isso. A minha se perdeu um pouco, mas está aqui. E sorri quando encontra a dos outros. Simultaneamente, um carro passou. Eu só pude ver duas mãos pegando no volante, ele estava de camisa azul. Não, não sei quem era, mas alguém o acompanhava. E, sou tão curiosa, que me pego pensando "o que eles conversam? o que eles conversam enquanto, ao lado, essas crianças brincam?" Será que eles falam da vida? Ou só de uma comida que os fez mal? Talvez, falassem de mulheres. Ou de homens. Ou de mulheres e homens. Não vi se era um, ou uma, acompanhante. Gosto dessa palavra, "acompanhante", pois não é feminina, nem masculina, é muito mais fácil escrever assim. Enfim...

Light.

Porque, pensava eu, estava tão certa. Mas nunca estive tão errada. Até penso que não seja isso de "certo e errado", mas que seja bom senso, mesmo. Vai saber. Eu é que não sei. Tenho olhado pra o espelho, muitas vezes, e tenho me reconhecido. Acho que isso é bom. É pesado dar de cara com você. Essa sou eu, agora. Vou mudar o ângulo. Tem espelho que engorda, tem espelho que emagrece. Minha alma também não tem o mesmo tamanho. Ou tem? Ah, é, tenho alma. Ultimamente, eu não sei quem ocupava meu espelho. Dizem que espelho tem alta reflexão de luz. Acho que é luz demais. Tanta, que nem me vejo sempre. Tem luz que me deixa light. Eu, sem açúcar. Às vezes, sou tão ácida, baby. Ah, brega. Vai ver era outra de mim. Vai saber. Não dizem que a gente sonha e se joga no que é mais verdadeiro de si mesmo? Será que eu me joguei? Sou eu me jogando em mim. Por isso, dói. Eu ouvi o barulho da queda, mas me amorteci. Eu estava caindo, eu estava vendo, eu estava ouvindo, eu estava embaixo. Eu em

Ah.

As pessoas deveriam ser mais práticas. As pessoas deveriam ser mais elas, digo. Deveriam se permitir mais, e dizer mais, e sentir mais. Fazer mais isso, e menos aquilo. Eu tenho feito mais disso. Muito mais disso. "A gente deve aproveitar" já dizia alguém. E eu ouvia, bem atenta. Ouvia e guardava, guardava com marcador. Abria e estava na mesma página. E era bom, deixava uma folha no livro, pra parecer que havia caído, de repente. Como se eu houvesse lido o livro em outro lugar, outras épocas. Como se eu fosse do livro. E pensei, em outro instante, que estranho isso de se fotografar, não é? É você por você. E quem sou? É it por it. Sou eu que seguro a câmera, e sou eu a fotografada. Dá pra ser duas coisas, olha! E sou a mesma em ambos os casos? Ou sou duas: a mão que segura e o rosto que vê? É bom. É bom. É bom, mesmo. E me guardei naquelas fotos. Fotos, sim. Retrato é muito velho, e eu sou jovem, baby. "Eu devo ser jovem" venho dizendo. Já dizia alguém que, assim co

Cheio.

- Onde é que eu vou buscar realidade? Parece que ela me foge. - Não foge, não. Você é que foge dela. - Eu detesto quando você afirma sobre mim. Eu não me sei, imagine você. - É que eu te vejo por fora. - E eu me vejo por dentro. Não dá pra dizer se o balde tem água, se a gente não olhar pra dentro. Só se for transparente. E, bem, eu não sou. Sou complicada, sou muito inside. - E do que é que o balde tá cheio? - Não sei. Ainda não olhei para dentro, hoje. Isso é: se ele estiver cheio. - Você muda todos os dias? - Sim, mudo. Quase sempre. - Como? - Às vezes, esvazio o balde. Às vezes, deixo como está. Posso misturar tudo, também. - Não há nenhum balde. Há você e eu. - Dois baldes, então. - A gente é mesmo coisa muito frágil. - É, frágil que nem bailarina de caixinha de música. Você me abre, e eu não paro de tocar. E giro, e danço, até que me feche. Mas bailarina tem vontade própria, e eu nem sei dançar. Às vezes, a música pára. E bailarina deixa de sentir, e fica parada, ne

aMMor.

Mia e Mateus "se amam". Eles andam, juntos, todos os dias. Mia é feliz com Mateus, mas Mateus é feliz com a Mia, não com Mia. O problema é que Mia é várias: não é a Mia, não é alguém. Mia é Jéssica, Luana, Maria Helena, Maria Sofia, Audrey Hepburn. Mia é sua mãe, seu pai, seus irmãos, seus filhos que ainda não nasceram. Mia é Lady Di, Nietzsche. Mia é deus, Harrison, Lennon, Mia é strawberry fields forever. Mia é música, Mia é arte, Mia não pode ser só Mia, porque só isso é pouco demais pra o que ela tem por dentro. Ela sonha, ela deseja, ela aspira, respira, transpira. Se Mateus a ama, ele não precisa amar a Hepburn, nem a Lady Di, nem o Nietzsche. Ele nem precisa acreditar em deus. Mateus só precisa amar a Mia por inteiro, a que sorri enquanto chora, a que anda devagar como filmes em câmera lenta. Mateus precisa amar a Mia que fica triste sem motivo, que chora em frente ao espelho, que chora atrás do espelho, que chora sem espelho. Mateus precisa amar a Mia que chora, també

Tac.

"Close your eyes" eu ouvi. Close your eyes, close, c l o s e, close. Mas está perto demais. Perto demais para fechar. Perto do final da história, a gente não quer abandonar o livro. A gente só prefere abandonar quando tem medo do que virá nas próximas páginas. Aí, a gente deixa tudo em branco e escreve do nosso jeito, com a nossa letra, nossos espaços, nossas margens. "E daí se a gente não quiser fechar?" - perguntei. E respondi "Não há nada para ser fechado, pois, nunca, nada foi aberto". E, quando a gente não abre, não precisa fechar. Será? Ou será que a gente fecha antes de abrir? Ou que abre e não quer mais fechar, e não pode mais fechar, e a porta quebra, e a fechadura fica toda enferrujada da gente... Da gente, que abre e fecha tantas portas, e gavetas, que abre e fecha abre e fecha abre e fecha. Eu me fecho pra barulho de relógio no silêncio. Detesto aquele tic tac, mostrando que ninguém está ao seu lado, agora. Que nenhuma risada ou grito escondem

-

Eu vou manter o meu mistério, só um pouquinho. Só um pouquinho pra não entediar. Ah, às vezes, eu fico tão irritada. Mas, repito, só um pouquinho. Não estou raciocinando, não. Estou voando com unicórnios pretos, com olhares de gatos amarelos. Eu olho pra eles, e eles não olham pra mim. Não me importa. Que cheiro estranho, é o cheiro da volta. Você é louca, meu espelho me diz. Você é mais louca por achar que seu espelho fala. Eu não tenho maçã, nem veneno, nem anões. Dane-se. Não estou interessada em nada, me leve daqui pra qualquer lugar, só agora, e me traga de volta em um segundo. É o tempo em que sorrio dormindo. Vou me arrepender, mas nem ligo. Vou gritar, mas nem ligo. Vou tirar o telefone, vou apagar, vou quebrar, vou jogar tudo no chão e dizer que deveria ter pensado mais. Mas nem ligo. Não vou reler, só vou editar. Vou deixar as páginas passarem pelo vento, nem vou tocar. Às vezes, a gente sabe que vai dar porcaria. Mas nem ligamos. A gente, de novo, eu, e eu, e eu. São tantas

.

Sinto-me cada vez mais doentia. Você deveria saber, mas não. Nem vai. Eu sinto cada vez mais raiva. De mim. Sete vezes, sempre a mesma. Não, eu não vejo mais muito sentido nas coisas. Eu me sinto alegre, sim. Eu me sinto animada, sim. Eu quero sorrir, sim. Mas há muito sem cor, esqueceram de pintar o resto. Aí eu lembro que adorava colorir aqueles desenhos de bonequinhas sorrindo. Não havia bonequinha triste, mas eu tinha que ser diferente. Já me disseram isso, e eu não esqueci. Arco-íris desbotado não destaca. Eu era bonequinha, minhas roupas estavam avessas, meu sorriso estava de cabeça pra baixo, minhas esperanças estavam tortas, mais tortas do que as cópias que eu tentava fazer. Eu era branca, eu era preta. Eu era grande, eu era pequena. Eu era larga, eu era estreita. Eu era adorável, eu era malígna. Em mim cabia um pouquinho de tudo, e eu não me decidia. E peguei essa mania: aumentar e diminuir, ir pra frente e pra trás, sorrir e chorar, até que alguém venha me colorir, e me deixa

...

Como se só estivesse esperando pra acalmar. Como se só estivesse esperando pra parar, pra deixar, pra sentir um pouquinho. Abri a porta e deixei o gelo derretendo. Mas meu gelo é novo, o teu é antigo, acho que nem derrete mais. Uma pena, eu gostaria de ver o que há atrás dele. Mas, se você não quer, não vejo. Eu me atrasei, mas fiz tudo como queria. Vai que foi errado, vai que foi incerto, mas eu fiz. Eu pensei que não sentiria saudade, quem se atrasou foi ela, não eu. Eu sou um pouco clichê, porque espero que você esteja bem, meu bem. Acho que chegamos no último ponto...

Deixa.

Eu me sinto toda boba, feito pipa voando. Você já viu pipa voando? É bem boba. Eu olho e penso "que pipa boba", e eu penso o mesmo me olhando no espelho. Mas eu tenho voado, voado, voado todos os dias. Pergunto se estou voando sozinha, sem companhia. Tem sido tudo muito bom, sabe? Pergunto se é real, se estou imaginando, se estou me enganando, se estou sorrindo. Sorrindo eu estou, o resto, não sei. Mas quem disse que quero saber? Nem tudo que me pergunto, desejo uma resposta. E daí? Deixa, venho dizendo, deixa, que está bom assim. E está. Está maravilhoso. Nem me importo tanto. E tu chegas e me falas e me abraças e me beijas e me convences de que está tudo, realmente, sendo. Mas eu tenho me sentido estranha, às vezes. Nem bem, nem mal: estranha. Você é minha luz. Se for luz do sol, se for luz da lâmpada, nem tenho me importado tanto, repito. É luz, e eu me sinto iluminada. Mas, uma hora, deve apagar. E é, digo, e não será mais. E me veio uma epifania agora, me sinto toda bril

Branco.

Cheiro de amora. Eu achei que estava sendo de uma forma, mas era de outra. De outra, não daquela. Não da que eu queria, não assim, não verde, não rosa, não com trufas. De outro jeito. Ah, mas que besteira. Deixa ser, é bobagem. O que não é bobagem nessa vida? Pouca coisa. Quem garante o quê a quem? Nem entenda. Nem eu entendo. Eu olho pra você e vejo calçadas marrons, cheias de divisões. Não era pra rimar, mas acho que rimou. Mas você me olhou, naquele dia, e disse tudo que eu queria te dizer, e não podia. Eu fingi que não ouvi, mas eu ouvi. Eu não sou boba, só quando quero. Você também não é. Sei que está tudo sem sentido, branco, como se estivesse limpo. Mas não está, só joguei tinta em cima. Parece novo, não é? Mas não é, não. É velho. Eu tiro a tinta e mostro pra você. Isso é muito fácil pra nós dois. Digo isso porque conheço você, apesar de não me conhecer muito bem. Eu me surpreendo. Enfim, senti que alguém sabia de mim. De tanto que eu tentava me esconder, e ninguém queria me ac

-

Toda foto tem uma história, por mais boba que seja. Eu te fotografei, coloquei na gaveta que eu não lembro. Mas, quando precisar, pegarei a foto, e olharei, e lembrarei, e sentirei novamente você ao meu lado. Eu não preciso dos seus olhos, nem de você. Acho que preciso de lembranças. O resto não faz falta alguma. Sou de um jeito, espero que me entenda. Não, não espero, eu espero mesmo é que você não entenda nada, que se impressione, certo? Você deveria saber tudo o que tem aqui dentro, mas não posso, nem quero. Que você não se assuste, ando meio vazia, viciada em nada, meio fora de mim. Você é tão meu, e tão... Ando cansada, enjoada dessas coisas todas, não quero mais.