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Mostrando postagens de setembro, 2017

Chiaroscuro

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          Luz. Um dia a recebi como quem recebe barras de ouro e não sabe o que isso é. Um dia eu quis ser luz pura, brilhante como o sol que ofusca e para o qual se insiste em olhar. Mas sempre me guiei pelos opostos – a escuridão e seus mistérios e medos e torrentes assustadas do desconhecido sempre me atraíram mais. Um dia, alguém me deu à luz. E o sol se revolta há alguns anos e eu me vejo um pouco diferente um pouco mais magra um pouco mais estranha mais incoerente mais menos de algumas coisas mais de mim, ainda que eu não saiba o que isso quer dizer. Menos humana. Mais animal. Eternamente nessa divisa esquisita que vem do pensamento por ser humana e dele vai embora ao mínimo sinal de ira por ser animal. Um pouco mais perdida. Dissimulada. Com olhos de ressaca de quem não bebe há dois anos. O cansaço natural de ser o que se é todos os dias. Sem intervalos. O rastro perdido dos próprios pés sem direção certa. Que às vezes finge. Às vezes sabe bem para onde vai. Depois, não sa

Não saber

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Tudo dói um pouco à meia-noite de um sábado a falta de pressa a calmaria a brisa imaculada que canta e regenera os pecados todos e as culpas sem sentido e também as com sentido o vento no rosto que a tudo perdoa sem exceções o medo, a angústia a dúvida de pra onde vamos após a vida e após a morte qual a duração da morte do intervalo de tempo entre a vida e a pós-vida se a duração existe o que é durar e o quanto isso vale pra onde vão os outros que não vejo não toco não beijo pra onde vão os que ainda habitam a terra e sumiram da alma se existe alma se existo se habito um lugar que posso chamar de meu se sou minha dos outros de ninguém sem dono sem coleira sem memórias tudo apagado reinventado fingido uma duas mil vezes mais aonde estou quando me vejo e não me reconheço no mesmo corpo os braços dormentes a alma anestesiada nada doerá nada parará nisto que nem mesmo é meu que nem