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Mostrando postagens de novembro, 2011

O que é que Cândida vai fazer?

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Cân-di-da: três sílabas, mas tão grande. Loira - aquele tom de loiro, em que ainda se é um pouco morena -, branca, branca, quase invisível. O que é que Cândida vai fazer? Vai nascer. Cândida nasce, faz alguma coisa, tem uma epifania e nasce de novo. Cheia de luz, linda, jurando que o mundo é de todo bom. Vai se decepcionar, vai chorar, vai borrar a maquiagem no espelho, vai dizer que nunca mais, vai comprar sapatos e se arrepender, vai comprar roupas menores que não caberão, vai sair e ser feliz pra sempre. Cândida vai chorar de novo, não vai entender nada, vai sonhar que voa, vai ter dois dedos - dos pés - do mesmo tamanho. Cândida vai sair de casa, vai ser independente e voltar. Vai sorrir até se engasgar, chorar até vomitar, viver até morrer. E, quando falecer, vai virar pó. E, quando virar pó, vai ser jogada na areia do parque de uma creche, onde passará a eternidade com os seus, inocentes como ela.

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Às vezes eu descubro umas coisas... E o pior é que são minhas. Tenho tanta pena de tudo que eu criei e não chegou a nascer. Não sei se é pena pela possível beleza da história que viria, ou pelos elogios que não ganhei. Pode ser também alívio pelas críticas que não vieram junto. Eu crio tanta coisa. E aborto mais ainda. Sem enterro, velório, nem nada. Quando vejo, já morreu. Nem triste eu fico. Logo vem outra história, e substitui. Ou lembro de ter algo pra fazer. Cada vez que aperto o backspace, puff! Lá se vai mais um... Juram que todo mundo é sincero. Que quem fala muito palavrão é direto, objetivo. Pode não ter nada pra falar, além de "puta merda", mesmo. Há certo tempo não me vem esse fluxo de palavras. Até vem, mas a preguiça chega mais cedo, e lá se vão mais uns... Pessoas são esquisitas. Isso é um fato. Uma pessoa achando outra esquisita: isso, sim, é esquisito. Ai, que eu queria mesmo concluir com alguma coisa... E o pior é que não vem nada.

A menina do dedo no nariz.

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Hoje vi uma menina, na parada de ônibus. Ela parecia a personagem Macabéa, do livro A Hora da Estrela , de Lispector. Ela nem é feia, tem cabelo liso e grande, parece ter uns 15 anos. Ela estava com a boca aberta - até cogitei que ela poderia ter algum problema mental. De repente, a menina enfia o dedo no nariz. E tira. E enfia. E mantém o dedo no nariz e a boca aberta. Eu olhei aquilo tão abismada, ela parecia alheia a tudo, às “regras da sociedade”, à higiene, e fazia aquilo tão naturalmente, como algo que todo ser humano faz, mas sem se esconder pra isso. Eu não vi como algo ruim, apesar de sentir nojo, eu a admirei. Ela era ela mesma, acho que nem tinha noção de que quase ninguém o era. E, por ser quem era, eu achei que ela tinha problemas mentais – ainda cogito. Como se nós, os que são tão civilizados, fôssemos saudáveis. Aposto que Suzane Richthofen não enfia o dedo no nariz em público.