- Alô?
- Alô, é da casa do... - Olá, você, de novo. - Como sabes que sou eu? - Essa tua voz toda dolorida, só podia ser tua. Fala o que tens pra falar. - Só liguei para dizer que te quero aqui, pertinho. É muito melhor. - Não posso, meu bem. - Por quê? - Porque não quero. E quando não quero, mesmo que eu vá, não posso. - Por que não quer? - Imagine um arco-íris, todo roxo. Seria arco-íris, mas de uma cor só. Qual a beleza nisso tudo? Eu aí, contigo, sem ser eu mesmo. - Tira essa merda desse personagem, meu Deus. Tô tão cansada dessas coisas, dessas desculpas, desses sorrisos prolongados por mais dez segundos. - Não sei do que falas. - Seu personagem não sabe, mas você sabe, sim. Para de fingir. Sua boca mente e seus olhos dizem a verdade. Sua boca mente e sua respiração desmente. Ouço daqui teu respirar ofegante, com medo de ser descoberto. Mal sabe você que já te descobri. Sim, tirei este lençol com o qual tu vens se escondendo... Agora sentes frio, não é? Pois saiba que me senti