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Mostrando postagens de setembro, 2011

O Surrealismo de Buñuel.

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Ontem conheci o diretor Luis Buñuel , nacionalizado mexicano, amigo de Salvador Dalí e grande influência para Pedro Almodóvar . Há umas semanas, li a sinopse de Simão do Deserto e O Fantasma da Liberdade . Coloquei os dois filmes em minha lista, e nem mesmo lembrei que pertenciam ao mesmo diretor. Hoje os assisti. O Buñuel é surrealista - logo, me conformei caso eu não entendesse nada. Primeiro, Simão : achei sem sentido. É um "média-metragem", 43 minutos de história em si. Muita gente deve discordar, talvez eu realmente não tenha conhecimento suficiente para afirmar algo sobre o cinema surrealista, até porque foi o primeiro filme do gênero que assisti. Para mim, nem fedeu, nem cheirou. Depois, assisti O Fantasma da Liberdade e não me arrependi. Bem diferente de Simão, tanto na produção, quanto na história. O que há em comum entre os dois é a falta de lógica. Falta proposital - surrealismo, oi! O filme traz várias histórias, muito diferentes, joga na tela gente-doida-que-p

Sobre "Viver a Vida".

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Como falei no post anterior , hoje tentarei falar o quanto e o porquê gostei tanto de Viver a Vida . O filme é dirigido por Jean-Luc Godard , com a protagonista Nana, interpretada pela Anna Karina , ex-namorada do Godard. Quando vi o título pela primeira vez, achei que fosse apenas um filme sobre viver e etc. Mas não é só isso. O título, nesse caso, tem duplo significado: viver apenas e ser uma mulher da vida . Nana faz as duas coisas. Sonha em ser atriz de cinema, ser descoberta por aí, de repente, quando não esperar. Tenta fotografar, mostrar ao mundo quem é, quando é perceptível que nem ela mesma sabe. É bonita e pobre. De minuto em minuto, pede 2000 francos emprestados a qualquer um. Mas não é pedinte: é cara-de-pau. Segundo a própria, acaba se prostituindo, porque "é mais cômodo". Ao mesmo tempo, tem inocência, bondade, conquista simpatia, seja medindo sua altura por seus próprios palmos, em uma lanchonete, ou só falando por falar. Em certa altura, Nana conhece um senhor

Mais Godard: amanhã.

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Acabo de assistir Viver a Vida - não, não é a novela do Manoel Carlos. Trata-se de um filme francês, do Godard. Um dos filmes mais lindos, bonitos, verdadeiros, puros, todos os bons e belos adjetivos que existirem para descrevê-lo. Eu já me deparei com ele, sem saber. Agora sei. E agradeço, todos os dias, à vida, por ser tão bonita. Até quando errada, bonita. E eu não sou cheia de otimismo, nem Pollyanna . Mas tudo tem sido magnificamente bonito, sem ser prosélita, sem querer mostrar por aí que estou feliz. Nem sempre estou. E, até quando não estou, tudo é bonito. Enfim, vou guardar meus pensamentos-que-não-param para amanhã. Tenho estudado, passei a noite conjugando verbos, ainda não terminei de assistir Cleópatra, etc. Isto não é um diário. Amanhã trago aquela velha novidade, com mais Godard, que Mais Truffaut eu já trouxe dia desses. Posto agora, para que não me esqueça amanhã. Porque meu coração é grande, mas - ou por isso - minha memória é menor.

Nada a ver.

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- Está escuro porque estás de olhos fechados. Abre. - Me assustam estas transparências afiadas. O que é isso? - São unhas femininas. Essas não tem cor, pois sua dona é, também, dona de si, e não se importa com essas pinturas e cores que as outras mulheres metem-lhe no rosto ou em qualquer outra parte. Veja. Aquela mais alta tem os dedos inclinados para uma direção, devido aos sapatos de bico fino que usa todos os dias. Aquela outra não tem. Qual delas te parece mais feliz? - Eu não sei, não fui treinado para isso. - Esse impulso que te leva a escolher determinadas pessoas e cenas, não sei de onde vem. O que te parece mais bonito: o homem que roça o pé noutro pé inclinado, ou no perfeito? - Me parece mais bonito aquele que não tem pés para roçar. - Uma vida solitária? - Vejo beleza nisso, mas nem tudo que se vive é belo. - Tudo o que se vive é belo, sim. Há beleza na árvore que balança agora, na cidade ao lado, e eu nem mesmo a olho. Mas há vida na árvore. Há tanta vida na árvo

Mais Truffaut, por favor.

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Hoje terminei de assistir todos os filmes com o personagem Antoine Doinel, interpretado pelo Jean-Pierre Léaud , dirigidos pelo François Truffaut . Começando em Os Incompreendidos , passando para o rápido Amor aos Vinte Anos , Beijos Roubados , Domicílio Conjugal e terminando em O Amor Em Fuga , Doinel se torna alguém verossímil, talvez por ser um alter ego do Truffaut. Desligo a tv e me pergunto o que o Antoine está fazendo agora, como se nem houvesse envelhecido. O que até não deve ter acontecido, já que sempre foi a mesma criança fujona, com o nariz melado de farinha pelo pai e as reclamações da mãe. Cada cena é meticulosamente bonita, do óbvio aos detalhes. De "Christine Darbon Christine Darbon Christine Darbon" repetido em frente ao espelho, à mania de gesticular com o cigarro na mão direita. Algumas coisas só entendi no quinto e último filme, no qual muitas cenas, dos anteriores, são relembradas. Eu não sei, de modo culto e profundamente estudado, falar porque passo a

Há Beleza Aqui.

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Às vezes, principalmente nas madrugadas, nasce, com aproximadamente 2,5 kg, uma sensação muito esquisita, embora conhecida e antiga moradora, de que há algo nesse mundo que exista verdadeiramente. Que exista, de fato, do jeito exato que você quer. Porque, sim, há coisas que você quer do seu jeito, obviamente. Sempre há. Objetos, gente. Não que se possa comparar, mas há. Alguma coisa te puxa para o lado, e você vai sem nem cogitar. Sempre foi, sempre irá. Se disser que não, mente. E mentir para si é tão... bobo. Tome remédios para insônia, acredite que durmirá para sempre - estou falando de um comprimido apenas. Há uma mania de tentar achar sentido nos filmes, nos livros, no que as pessoas dizem. E geralmente é uma grande bobagem, porque quase tudo na vida é desprovido de sentido. Não que não se encaixe, que não seja maravilhoso e te deixe brilhando de felicidade, mas não é proposital. Se o mal não é proposital, o bem também não é. Alguns arriscam chutar que quem acredita no caos é infe

Carta para a Vida.

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Vida, você está em mim. Está em cada veia do meu braço, cada segundo, cada piscar dos olhos, cada gaveta que abro, cada mendigo na esquina, cada lágrima, sorriso. Você é a única coisa boa e ruim, sem "ou". Os homens, não. Os homens são bons ou ruins, não existe "e". E eu não culpo mais nenhum deles - nem eu. Todos possuem defeitos e qualidades. Gente perfeita não existe. E os psicopatas tem bom gosto pra música, boa conversa, boa qualquer coisa. É a essência de cada um que é voltada para apenas um caminho: o bem ou o mal. E isso não se escolhe. Não há um momento, nem enquanto ainda se tem o cordão umbilical, nem depois que o cortam, em que se escolha para qual caminho andar. Eu escolhi ajudar o cego na rua, abraçar uma amiga chorando, confiar em quem não parecia merecer confiança. Também escolhi falar coisas feias apenas para magoar, mesmo amando. Escolhi mentir que chegaria às dez, para chegar no outro dia. Eu faço escolhas, atos, palavras, sentimentos bons e ruin

Jailson e Raquel.

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O Jaílson era até bonito, alto, tinha barriga saliente, usava camisa pólo. Às vezes mocassim. Desenhava, andava meio estranho. Tinha alma de carioca, parecia carregar pandeiro nas mãos, que ocupava com um cigarro ou uma câmera fotográfica. O Jailson não era culto. Ele sabia uma palavra difícil ou outra, como "truculência", que nem era difícil de verdade. Também não era pseudo culto, do tipo que quer ser inteligente, mas não sabe metade de nada. Seu apelido era Jaja. Meio preguiçoso. Desistia de comer para não lavar os pratos. Desistia de sair para não escolher a roupa. Jaja conheceu Raquel e casou-se. Raquel era decidida, usava roupas pretas, scarpin. Gostava de chapéus, mas não sempre. Era muito organizada, tinha postura ereta - problemas na coluna, ela não teria. Um dia, Raquel decidiu não falar. Só ali, naquele dia. Mas como era difícil... Jailson queria seu casaco azul, Raquel não podia falar em qual das seis gavetas estava. Jailson irritou, irritou, irritou. Quebrou uma

Burn II.

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Após ter suas coisas, sua mão, suas lembranças queimadas, o fogo abaixou. Ela sempre soube que deveria continuar queimando. Entrou no fogo, tem que queimar. E que queimasse até findar a parafina da vela. Gritavam, "sua mão pega fogo, saia daí!". Ela ouvia. Sabia que não era a hora. A água chegaria leve, sem bater na porta, sem aviso, e apagaria tudo. Mas não era a hora. Em certos dias doía tanto, que parecia ser insuportável. Água chegou. Olhou para si. Sua mão, pernas, tudo seu estava lá, de novo, inteiro. A casa estava diferente, mas o chão era o mesmo. Os tijolos, concreto, gesso, parede, tudo era igual. Queima-se, sim. Dói, sim. Muda-se, sim. E não se deve acabar com o fogo enquanto ainda há algo queimando lá dentro. Que seja errado, que seja incerto, que doa doa doa demais, se ainda queima, deixa queimar. E não desista até terminar. Fogo foi embora. E assim ficou: queimada, mas inteira.

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Eu queria passar um dia inteiro sem pronunciar uma palavra sequer. Quem disse que eu conseguiria? Não sei. Mas querer, queria. Acho que eu ficaria doida. Às vezes, falo demais. Às vezes, não. Nem dormindo, eu durmo. Até de olhos fechados, sou acordada. Outro dia eu pensei que felicidade não existe. Que eu chegue em certa idade e, de repente, me encontre feliz. E que seja assim todos os dias, mesmo com as coisas tristes que acontecem vezenquando. Eu tenho epifanias muito boas, como no sábado. Eu comia batatas-fritas, às cinco da manhã, com meus amigos. O que parece muito bobo, mas comer batatas sozinha não tem a mesma graça. Não me refiro ao gosto delas, mas à companhia mesmo. Às vezes fico muito feliz, epifânica, etc. E tenho motivos pra isso. Outras vezes, não. Quando fico triste, fico de verdade. E não penso em coisas boas. Nem acho isso errado. Sou eu viva. Então que sinta. Eu não tenho cicatriz. Nunca caí. Mas dói. Dói sei lá o quê. As palavras não tem surgido pra mim, assim, como