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Mostrando postagens de maio, 2013

O ônibus

Eu sinto a vida macia e Leve, como um ônibus que peguei Numa quarta-feira à noite Prum bar. Vou cambaleando um pouquinho, e Morro nas lombadas, E acho essas metáforas ridículas, Mas não posso evitar me sentir Como num ônibus que peguei Numa quarta-feira prum bar. Quarta não é dia de bar, é verdade, Mas esse bar só funciona nas Quartas, e eu só funciono com esse bar Como se eu fosse uma máquina e Precisasse funcionar, Ser útil, Cumprir os passos, Não dar choque, Ser econômica E substituível por qualquer modelo Novo. Lá no fundo, Ou nem tão fundo assim, Somos todos substituíveis, E ímpares, e estranhos, Porque somos humanos, e Erramos, e mudamos de ideia No interstício de segundo Entre um interstício de segundo e outro, E perdoamos, e guardamos mágoa, E amaldiçoamos o dia em que o Outro nasceu, mas Choramos, E nos damos conta das próprias merdas, E precisamos lavar os próprios pratos pra Pagar o infortúnio de ter na

Contradições do ódio

Eu gosto do meu relógio só por não ser eu Mas, ao gostar, imprimo meu afeto E preciso odiá-lo, então, porque me odeio. Odeio não só o meu todo, Mas todas as minhas partes; Todas as coisas tocadas pela minha mão; Todos os objetos mirados pelo meu olhar; Eu me odeio antes de existir; Odeio o mundo que viera antes de mim, Por me gerar, E criar parte do que sou; Odeio o mundo em que existo E odeio os mundos em que não existo, Só por criá-los ao pensar Em não existir neles. Fujo de tudo, Mas sempre me encontro, Num eterno retorno, Obrigada a me amar, Só por me odiar tanto, E ainda faço tudo verdadeiramente Ao mesmo tempo E em completude.