O ônibus
Eu sinto a vida macia e Leve, como um ônibus que peguei Numa quarta-feira à noite Prum bar. Vou cambaleando um pouquinho, e Morro nas lombadas, E acho essas metáforas ridículas, Mas não posso evitar me sentir Como num ônibus que peguei Numa quarta-feira prum bar. Quarta não é dia de bar, é verdade, Mas esse bar só funciona nas Quartas, e eu só funciono com esse bar Como se eu fosse uma máquina e Precisasse funcionar, Ser útil, Cumprir os passos, Não dar choque, Ser econômica E substituível por qualquer modelo Novo. Lá no fundo, Ou nem tão fundo assim, Somos todos substituíveis, E ímpares, e estranhos, Porque somos humanos, e Erramos, e mudamos de ideia No interstício de segundo Entre um interstício de segundo e outro, E perdoamos, e guardamos mágoa, E amaldiçoamos o dia em que o Outro nasceu, mas Choramos, E nos damos conta das próprias merdas, E precisamos lavar os próprios pratos pra Pagar o infortúnio de ter na