Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2010

Searchar.

- A senhora sabe me dizer onde fica a sala 305? - Não tenho certeza, mas acho que fica à direita. - Certo, obrigada. - Seguiu à direita, e não era. Parou, novamente, e perguntou a um senhor. - Com licença, onde fica a sala 305? - Creio que à esquerda - Obrigada. - Seguiu à esquerda, e não era. Parou, novamente, e perguntou a uma jovem. - Onde fica a sala 305? - Acho que no andar de baixo. Então, ela desceu. Procurou tudo e não achou. Parecia que havia sumido, desaparecido, ou era só uma armadilha para continuar procurando, mesmo. - Não acho, não encontro, não existe. O número deve estar errado, ou, quem sabe, eu, talvez. Eu não sei que natureza é essa, a minha, que não se contenta em parar no meio do caminho. É como se algo me puxasse, sei lá para onde, e dissesse "vem, é por aqui. não é tua sala, mas é tua". Ela seguiu em frente, só seguiu. Sem perguntar a ninguém, sem saber pra onde ia, seguiu ela mesma. Voltou ao início, de onde começou sua procura. E estava ali.

Três pontos...

  ... Eu sempre te olhei. Tu não vistes. Ou viu e fingiu que não. Ou fingiu que não, mas viu outra coisa. Mas eu lhe vi e nunca mais parei de ver, mesmo de olhos fechados. - E o que queria? - Queria, assim como quero, suas mãos com seus dedos curtos, sua vida desequilibrada, seu eu escondido, seu olhar perdido, seu andar forte, sua forma de inclinar as sobrancelhas, seu jeito de cruzar as pernas ao sentar, sua mania de mudar sempre e continuar igual, sua perca de tempo e ganho de vida em não crescer, sua fé, sua esperança de sorrir enquanto chora. Eu quero você. - Não diga isso. - Por que não? - Não sei lidar sequer comigo... - Ah, você fala como se eu soubesse. Se eu soubesse, não te saberia, nem te queria. Acha que não sei quem és? Vou pelo mesmo caminho de merda porque quero. - Você poderia ser mais delicada, não? - Quer a verdade? É essa. Toma, toda tua. Tá nas tuas mãos. Eu te quero e tua presença me basta. Não preciso te beijar, basta te ver, de longe, de perto, que seja.

Olha.

Mistério. Não conheço, mas sei bem. Tu olhas de cima, como se estivesse bêbado, sem estar. Como se dissesse "vai, fala logo" ou "você é só mais um em quem não confio".Olha de cima. Não como quem faz de tudo pra subir, mas como quem subiu e tem medo de descer. Aí paras de não ser quem é, sentas, respiras e mudas. Então, eu sei que você chegou. E que junto contigo vieram tuas mágoas e dores. Teu olhar vai distante, se afunda todo e, às vezes, encontra o meu. E vai embora. Vai porque não tem coragem de olhar e dizer "é verdade, é assim, não sou o que quero ser". Vai porque sabe que eu te vejo. Eu te vejo, vejo o que é teu, o que tu esconde debaixo destas piadas bobas, acompanhadas de um sorriso antigo, me fazendo mostrar os dentes também. Ah, o final da tua risada. Parece criança que nunca viu bola. Gosto muito dessa tua infância eterna. Talvez tu nem sejas assim. Talvez eu queira que sejas, para que me sejas também. Seja. Seja pra mim, seja pra você, mas sej

Meu.

Imagem
Eu estava deitada como de costume: pés nos travesseiros e cabeça no "final" da cama. Minha mãe passou pelo quarto e, como de costume, falou: "Você é toda avessa, hein?" A partir disso, pensei: coloco a cabeça onde deveria colocar os pés, e vice-versa. Então, será que meus pés é que pensam por mim, e minha cabeça anda, seguindo-os? Será que ando e depois me sigo? Desde quando é assim? Desde quando eu sou? Quando eu sou? Eu sou? Sou? Se sou alguma coisa, sou nostálgica. Demais. Para fazer jus ao rótulo, gosto muito de fotos, principalmente as antigas. Outro dia, peguei um dos álbuns da infância e olhei. Havia uma foto do meu aniversário de um ano, meu primeiro. Era a primeira vez em que eu via um bolo, feito para mim, enquanto tanta gente me olhava e cantava uma canção desconhecida até então. Era meu primeiro ano de idade, e eu não sabia nem quem era. E, agora, com dezesseis anos, continuo sem saber, apesar de já conhecer o bolo e a canção. Enfim, me observei. Olhei o

Explique-se.

- Você é encantador. - Eu te encanto, é? - Encanta, sim. Me encantam esses teus sorrisos e motivos bobos, e o teu jeito de contar as coisas mínimas que te acontecem. Gosto muito da tua criança de sempre, que não cresce. Eu te acho especial. - Especial? - Você pergunta tudo? Não acredita no que digo. Preste atenção: eu lhe adoro. - Como é adorar? - É querer bem ao outro, é sentir-se melhor ao vê-lo, é querer estar perto por mais tempo, é querer saber o que o outro gosta... Eu sempre esperei esse momento, assim, de olhar no fundo dos teus olhos pretos e dizer o que eu sinto. Eu precisava jogar isso pra você, era pesado demais pra mim. Eu me vejo em você. Me vejo tanto, tanto. Nas suas manias, nos seus gestos, no seu jeito de contar o que comeu pela manhã. No seu olhar, nas suas dúvidas, na tua forma e ritmo de andar, na sua angústia, principalmente nela. Somos sós, por mais juntos que estejamos. - Eu não sou só. - É sim, tanto é que parou de perguntar. Preocupou-se em negar: e só

Vem.

Eu sinto uma vontade enorme de escrever sobre você. Não sobre o "eu" de você, mas sobre o seu "eu" em mim. Continuo querendo desvendar o que existe atrás de tanta capa que te cobre e, mesmo que eu não descubra, consigo ver. Eu vejo o que eu quero e nunca seria capaz de ver o real. De repente, me veio a descoberta: por mais que eu te desvende, sempre serás como quero. Pode existir um "eu" seu como eu quero, e um "eu" como não quero. Enxergarei os dois, mas nunca apenas o segundo. Eu gosto disso tudo, desse mistério, dessa procura, dessa imaginação desenfreada que insiste em pensar em ti. Eu gosto muito, pois é o único momento em que me permito ser eu. Vem, vem logo que eu tô a tua espera, a porta tá aberta e meu olhar é pra você. Vem, não diz que me ama e eu não direi que te amo também, não quero mentiras. Vem, olha pra mim, fixamente, faz o tempo parar e o relógio enguiçar, enquanto nossos olhos se chocam. Vem, não seja tão clichê e não me deixa