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Mostrando postagens de julho, 2020

Receita

O ritmo deste poema Jamais chegará perto Do ritmo do meu coração Ao teu encontro: Ou devagar, quase parando Ou prestes a sair pela boca Mas isso, Eu não permito: Guardo o meu amor Como uma receita De família.

A noite

A noite tem essa coisa Esse mistério de mundo Místico e oculto Como se somente nas trevas Pudessem brilhar as estrelas A noite vem com sua morte Temporária, aperitiva, E um espelho a nos Mostrar quem somos Em histórias estranhas (Ainda que nossas: estranhas) A noite vem com Suas promessas, De partida, Prometendo um Novo dia Se aceitares morrer Um pouquinho.

Soneto sem finalidade

Posto que é chama, Esta droga que chamam De amor Só tende a me queimar E já não restará Mais nada.

Melancolia

Eu reclamava todo dia Da toalha na cama Das tuas queixas E da tua tristeza Sem fim Mas depois que foste Passei eu mesmo A esquecer toalhas E a me queixar Dessa tristeza Que agora é minha Eu precisava te adentrar De alguma maneira.

Manifesto de uma dor comunista

Todo poema que escrevo Depois de ler um outro É um pouco meu Um pouco de quem li E um pouco de quem leu Mas poesia não tem dono Não é como uma terra, Propriedade privada, E dói justamente Porque compartilhamos Dessa mesma dor.

Triângulo

Eu não seria capaz De roubar tua solidão Podemos ser nós três.

Hipótese

E se tudo isso for A imaginação de Um deus E na verdade o Mundo for Um grande coração A bater Sozinho Na escuridão?

Souvenir

Este simples souvenir , Esta van amarela, Me leva ao passado: Olho para ela e é como se Ainda pudesse fazer qualquer Coisa tola Planejar viagens Horários, partidas, E delas trazer qualquer Lembrança Hoje somente olho Esta van amarela, E relembro um tempo Interrompido E penso em quantas bobas Querelas Já me perdi E continuo a me perder Enclausurada, Comigo e dentro de mim, Com meus sonhos A se deteriorarem.

Olho esta planta

Olho esta planta E lembro que me deste Cheio de promessas A primeira de muitas (Promessas, não plantas) Olho esta planta E penso em ti Em como meu afeto Com ela se parece Cresce, cresce Distante Sem a menor fé Como se pudesse cair Num breve instante Não a toco por medo De me ferir: É uma bela planta Mas é mais espinho Do que planta Esta planta vive Através de ausências Mantenho distância Mas sempre a olhá-la Esta planta que acabou Por ser a última Hoje me recorda das Coisas supremas Que eu não vivi E talvez somente por isso Unicamente por isso Eu ainda a deseje A felicidade, Talvez nunca se Possa pegá-la E as promessas atraem Por si só É necessário crer É preciso crer Que amanhã será Um grande dia Ainda que não o seja Jamais.

Único

Acho tão estranho: A TV me diz Que o mundo é grande Se falam no teu continente, Pra mim se reduz a Um habitante E tu és o único inglês, brasileiro Ou francês Do qual me recordo Se falam na tua profissão, És tu o único artista, advogado Ou arquiteto Em todo o planeta E até quando falam nos homens, Em todos os homens, Há somente um A ocupar as minhas Lembranças (Um pequeno canto ao qual Relego as minhas dores) E este um és tu Já não me interessam Os outros Nem mesmo um: São outros Porque não são tu És tu a referência do universo És tu o próprio universo És o motivo destes versos O centro da circunferência O ponto que o compasso Marca e a tudo define O átomo no princípio da vida Antes que tudo explodisse E surgíssemos aqui Tu és o começo E o fim: O meio, percorro eu, Sozinha, Reduzi o mundo A uma só criatura Reduzi todo o planeta A tu Então, se penso que Preciso de mais Pra ser feliz Percebo que amar Talvez seja Reduzir.