Postagens

Mostrando postagens de março, 2012

Tu

Imagem
de olhos bobos eu leio o teu pedaço a tua face exposta a tua cara enrugada marcas de anos vários como árvore de anéis os que usas nestes dedos finos, pequenos, apontados para o escopo prezado de beleza tão abstrata que só enxerga quem ama

Um pingo loiro na chuva.

Imagem
Estava lembrando do pinguinho de gente que conheci há bom tempo (em expressão de quantidade e qualidade)... o pingo tal tinha cabelos loiros, curtinhos, umas 4 primaveras e era agitada como remédio pra gripe que a gente espera dissolver; era uma graça. Uns 2 dias após o contato primeiro, umas corridas, uns teatros, umas maquiagens e uns muitos abraços, ela me disse: - Você é minha melhor amiga, e eu tenho medo de te esquecer. eu perguntei o porquê, e ela respondeu, me deixando atônita: - Porque dizem que, quando a gente fica adulto, a gente esquece das pessoas, daí, vou escrever sobre você no meu diário. eu preciso dizer que fiquei boba? preciso? O que Clarinha-pingo - que é muito mais gente que uma poça-de-gente inteira - disse se constata: virar adulto é esquecer. Mas eu acho que ela ainda lembra da outra gota, aqui.

Tu tua, nua, crua etc.

Imagem
Tuas calças largas eu diminuo, tu me dizes que de estreito só nós dois; eu calo a boca, te devolvo a roupa, vou chorar sozinha enquanto ainda posso. Ritmo eu não tenho, finjo que te mudo, que não te gosto assim, que és feio; finjo ter vergonha, mas nem mel nem cabaça: rubor eu tenho é de gostar assim tanto e não ir além, por ser dente de leite ao lado de quem é juízo. Com toda inversão, eu no teu corpo, tu no meu, tiraste o verbo preso da garganta e jogaste: feliz eu fico, em todo caso, te olhando do outro lado da rua - tu tua e de mais ninguém. Nem minha, nem do mundo, mas tua. Eu te olho de frente: acordo. Os ponteiros marcam sete e meia: ainda não sou inteira.

O que sai de bocas fechadas.

Imagem
Você olha assim, meio de baixo, como se fosse arca, e, na maior naturalidade, abre a boca e não bota voz pra fora. Eu, digna de piedade, quase tartaruga, viro câmera lenta e não digo nada, também. E é uma pena, é tudo uma pena, porque eu tenho tanto pra dizer... eu só olho, olho e olho, e, como diz o clichê, talvez minhas janelinhas-jabuticabas digam alguma coisa, já que eu sou branca e transparente, por mais calada que fique. Eu não vou falar, é uma decisão antiga, que nada tem a ver com tua pessoa, então, podes escancarar a boca, usar delícias e palavrões, que eu te trago água, doce, o que você quiser: eu trago. Podes falar sobre as páginas, sobre as coisas transcendentes nas quais não acredito, sobre a tua vida inteira que eu já sei de cor e preto, podes repetir, podes repetir de novo, que eu não me importo... eu ouço como se fosse a primeira vez, faço cara de espanto, finjo que não sei: não me dói te ouvir. Teus dentes se mostram, eu saio por tuas sílabas maiúsculas, grandes, perf

De toda a beleza que há em alguém.

Imagem
Tu és pessoa linda. És lindo falando do que te preenche, és lindo gesticulando; és lindo com os cotovelos em cada ponta da mesa; és lindo lendo: o queixo no peito; és lindo concentrado: a boca aberta, por onde sai tua voz, que é linda, linda; és lindo andando, é linda tua calça tocando o chão; és lindo sorrindo, feito criança que não se importa quando a gengiva aparece; és lindo, de todo. Tua alma, essa coisa na qual eu nem sei se acredito, tua essência me deixa encantada, boba, profundamente dopada; é bom, é ruim, é tácito, jovem, silencioso pra fora, gritante pra dentro, é, primordialmente, só meu. És lindo, e eu sou por tu boba.