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Amanhã

E quando não houver mais Futuro a ser pensado Que farei eu com O presente? E o passado será capaz De ter em paz O seu destino? Poderei eu dormir Sem relutar? Seja uma noite Ou toda a vida Junto às estrelas E passarinhos - Virei ao ninho  Por não saber Outro lugar? Ah, o futuro... A Deus pertence! E, se Ele não existe, É certo que não pertence A ninguém (Ousei roubá-lo Mas como furtar  O que somente  O nada tem?) Só de interrogações  E parênteses abertos Vive o pensamento - O meu, ao menos, Que o teu agora Se perde em vagas E esparsas linhas. 

Inábil

  não durmo bem ou sequer durmo e quando durmo também não sei como se acorda tenho alergias a todo tempo se o tempo muda eu mudo junto me adoece a passagem dos dias, das horas e dos segundos sou inábil para o mundo não me ensinaram o modo certo ou menos doído de estar aqui (só aprendi sem o acento) sei que ninguém foi cem por cento bem ensinado e que nem mesmo há modos certos modos errados mas os outros parecem ter aprendido alguma coisa e eu nem sei  que coisa é esta onde se encontra como se usa sou tão confusa e tão dispersa sou inábil para a vida e devo ser também  para a morte alguma vantagem haveria de ter ser desse jeito ou apenas ser.

Receita

O ritmo deste poema Jamais chegará perto Do ritmo do meu coração Ao teu encontro: Ou devagar, quase parando Ou prestes a sair pela boca Mas isso, Eu não permito: Guardo o meu amor Como uma receita De família.

A noite

A noite tem essa coisa Esse mistério de mundo Místico e oculto Como se somente nas trevas Pudessem brilhar as estrelas A noite vem com sua morte Temporária, aperitiva, E um espelho a nos Mostrar quem somos Em histórias estranhas (Ainda que nossas: estranhas) A noite vem com Suas promessas, De partida, Prometendo um Novo dia Se aceitares morrer Um pouquinho.

Soneto sem finalidade

Posto que é chama, Esta droga que chamam De amor Só tende a me queimar E já não restará Mais nada.

Melancolia

Eu reclamava todo dia Da toalha na cama Das tuas queixas E da tua tristeza Sem fim Mas depois que foste Passei eu mesmo A esquecer toalhas E a me queixar Dessa tristeza Que agora é minha Eu precisava te adentrar De alguma maneira.

Manifesto de uma dor comunista

Todo poema que escrevo Depois de ler um outro É um pouco meu Um pouco de quem li E um pouco de quem leu Mas poesia não tem dono Não é como uma terra, Propriedade privada, E dói justamente Porque compartilhamos Dessa mesma dor.