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Mostrando postagens de junho, 2012

Da dubiedade inúmera

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Deixar a dúvida: da inocência; da transparência; do dente caído no tapete chinês que não se sabe se é canino se é felino se é de gente; da prerrogativa; da bondade; da encenação, do abrir e do fechar das modernas persianas; do desinteresse extremo ao ponto de não se virar os olhos, nem o pescoço; da torcicolo de tanto olhar e nada querer; no outro; sobre si em si; sobre o outro em si; do sorriso ondulado, que vira pra baixo e pra cima; da tristeza estratégica; do piscar planejado; do falso arqueamento da sobrancelha pintada de preto; da naturalidade da pele; da bochecha naturalmente rosa; do dia que não é dia mas noite; dos pontos; da burrice; da santa ignorância maculada de experiência, suja de sangue; da autêntica estirpe que por vontade própria se abre ao sol; da saudade; da obsessão, da doença pelo outro; da fuga do espelho; da loucura pelo reflexo mascarado; do andar distraída à espera do improvável; da dor feliz, da dor que se pede, que lateja pura e límpida na ferida descasca

O último dia do primeiro osso

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        O primeiro osso do indicador, perto da roída unha, destruiria o homem de inúmeros precoces cabelos brancos, trinta anos, dois filhos e nenhum siso. O primeiro osso do indicador jorraria seiva, a existência, o que sai e entra da seringa dia todo em crises diabo-éticas; quebraria a linhagem, cortaria a linha pela metade, no auge, derramaria pranto, imprimiria letras jornalisticamente adultas, sujaria piso encerado, o caro sofá inglês dividido em anos: da mão que sairia a morte, entraria, também, a vida: a vida do viver depois, dos pontos acumulados dentro dos pontos: a vida do ser mais que "ser": do eternar-se: do sem fim.         O gadanho carcomido, reflexo da ansiedade da criatura inexata e completamente perdida, turista de si, ficaria escarlate. O primeiro osso do indicador seria divino, querubim quase, enfeitado com anéis de louro, mítico, e teria uma só missão: impedir o dono de suceder a vida, engatilhá-lo ao céu; fotografaria, pela derradeira vez, a paralisa

Não existo

Jeito não teve Morreste E junto levaste o que de mim Sobrara: Tu apenas, Mais nada Eu já não existo.

Siso

Juízo é veto E vento em meu caminho A tudo leva E a tudo desampara.