Ricardo e o nó.
Às 7h da manhã, Ricardo acordava rindo e translúcido de um sonho. Acordar tão cedo - em dia de chuva, principalmente - era coisa rara, difícil como tomar banho frio no próprio frio. Abrir os olhos naturalmente, então, sem que ninguém lhe puxe as pernas ou que o despertador berre nos ouvidos, era mais difícil ainda. Ricardo só acordava cedo, assim, quando algo o incomodava. E incomodava. O quê? Não se sabe. Só sentia, no estômago, o tal nó que confundia, diversas vezes, com gastrite, mas nem mesmo houvera passado fome, nem tomara limão demais. Aquele homem moreno, maior que sua cama, grande para os lados e comprimentos, com os olhos cansados - desta vez, por tanto acordar-dormir-e-acordar -, decidiu curar sua gastrite, e é aí que a história começa: Ricardo e o nó. Foi à cozinha, pegou um Magnésia Bisurada e mastigou até esquecer o gosto bom das coisas. A dor permanecia. Em passos largos e afoitos, ia em direção ao quarto. Abriu o guarda-roupa, mas parou e pensou melhor: não iria demora