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Mostrando postagens de outubro, 2010

Segredo nosso.

Eu o olhei, ele revidou. Eu que sempre fui contra a vingança e essa me agradou. Havia alguma coisa nele, além do óbvio. Ele parecia me olhar como se soubesse que eu não o sei, e usasse isso a seu favor. Covarde. Sim, covarde, pois sabe o quanto me encanta, e eu odeio que me saibam. Eu não sei se seus olhos diziam "eu sei quem você é" ou "você não sabe quem eu sou", só sei que, de algum jeito, ele me atraía. Eu gosto é do mistério: o jeito com que você sorri sem querer, o final e o começo do som da sua risada, aquilo que você esconde nela, tanto que você conta e omite ainda mais... És tão eu. A gente se olha como quem guarda um segredo que nenhum dos dois conhece, um segredo para nós mesmos: um para e ao outro. Deveríamos nos encontrar, existindo ou não o destino. Se não, a gente criava. E nosso destino só se cruzaria, não era contínuo, não. Ia acabar, embora nem houvesse começado. A gente só devia se olhar, naquele momento, guardar o segredo e viver suas vidas. E, e

Estando.

Uma merda de dor de cabeça lhe puxa para um lado, enquanto seu desejo de escrever lhe puxa para o outro. Falo como se só houvessem dois lados. Talvez. Quero jogar palavras aqui, mas não sei quais. Tenho idéias, mas nenhum desejo de realizá-las. Quero escrever, só, puramente, só. Eu me fujo, sempre. Mesmo me permitindo o aleatório, não consigo. O que eu boto aqui já foi previsto um segundo antes de mim, eu mesma sou maior que o espaço. Interprete como quiser, não faço questão. Até porque, seja lá como entender, você nunca saberá o que realmente penso. Tudo o que a gente escreve é só pra ser interpretado errado, porque a gente nunca quer que saibam exatamente quem somos. A gente, sim, porque sou muitas. Sou a distraída que brinca com a caneta pensando na falta de tamanho do mundo, mas também sou a paranóica que te olha e tenta te descobrir, quando só quer descobrir a si mesma. Sou a paciente que deseja ouvir toda a história da tua vida, e também sou a ansiosa que treme a perna e brinca c

Dos sentidos a observar.

          Neste momento, sinto as teclas com meus dedos e com alguns centímetros das palmas das mãos, ao mesmo tempo em que meus cotovelos encostam em minhas pernas cruzadas, e essas sentem a textura da cama. Estou olhando o que escrevo com um par de olhos quase pretos. Ouço o vento gritar na janela e um carro que passa com pressa. Simultaneamente, sinto o cheiro da minha mão direita recém-lavada e, em breve, algum cheiro infantil retornará, trazendo nostalgia.           Eu sempre achei impressionante a forma como sabemos que vivemos, que tocamos, olhamos, ouvimos e cheiramos. Aliás, eu sempre me impressionei por fazermos tudo isso. E se não tivéssemos esses sentidos? Viveríamos na escuridão? Ou criaríamos um mundo nosso, com sentidos próprios e novos? Será que já fizemos isso? Talvez não existam cores, nem cheiros. Talvez vivamos na escuridão e criamos o mundo, com esses sentidos, para acreditar nele e sair do tédio. Não obstante tudo isso, continuo não acreditando que existo, assim,

A pegar.

Apego:  pegar, contagiar, valer-se de ou inserir-se. Meu: de mim, pertencente à minha pessoa. Parece que tudo se torna menos meu. Não falo no sentido negativo, como se perdesse algo, me refiro ao fato de perceber, cada dia mais, que nada é e nunca foi meu. Não sinto raiva: só pena. Parece que nada me pertence, nem eu a mim. Estranho-me incontáveis vezes. Eu, sinceramente, ainda não consigo acreditar que existo. Observo minhas brancas mãos e vasos sanguíneos em tons azuis arroxeados, pulsando um sangue que circula todo o meu corpo e passa dos pés ao encéfalo, e acelera, e diminui. E tenho neurônios, hormônios, sorrisos, e tenho lágrimas. Tenho pele, vida e opinião. Eu não consigo acreditar que tudo isso seja meu. Por que meu? Por que eu? Como eu posso ser e existir? Sinto-me leve, flutuando, voando em uma matiz colorida da não-cor. Quem é que fala aqui? Quem é que grita? Quem é que sente? Será que escolhi ser eu? E quando escolhi, já era eu? Nasci ao passo em que chorei pela primeira ve