O espelho.
Era cedo, se o referencial fosse a noite. Era tarde, se fosse a madrugada. Era atemporal, se fosse o amor. Sempre acordava com a cabeça meio "zonza", uma das mãos dormente, o cabelo bagunçado e aparentemente mais curto - mas não. Não. Tudo estava do mesmo tamanho: da altura à esperança. Nem maior, nem menor. Talvez houvesse engordado, sabia o quanto aqueles chocolates a levariam de volta ao passado, mas estava do mesmo tamanho. Sozinha, naquele momento pequeno, que, na pele, parecia durar a eternidade, levantou com passos lentos e a consciência furada como uma peneira, por onde escorriam todas as suas culpas. Tocando cada parede, quase esquecendo o mapa da própria casa, dirigiu-se à cozinha. Na pia, uma pilha de pratos, da marca Rayovac. A água saía da torneira com o propósito de assustá-la, no silêncio, fazendo com que se sentisse numa película de terror - mas não. Não. Não era terror. Às vezes, comédia, suspense, drama, mas terror, não. Doía, doía bem muito lá dentro, as