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Mostrando postagens de junho, 2011

Tarja preta.

Era um suicida. Sapatos, jeans, autocida. Oito letras. Tão provocante, tão pecador. Não dá pra ser ex-suicídio. Ou é, ou não é. O suicida era vizinho da loucura. Percebeu que "louça", sem cedilha, é louca. E via loucas nas louças. O prato que você come te enlouquece. Pra comer prato, só pode ser louco. Mas um louco fala pra outro louco uma loucura qualquer e os dois acreditam. Todo louco meio que acredita. Morando entre as benzamidas, móvel preto, casa preta, tarja preta. Haldol, Diazepam. Pam Pam Pam, não podia ser tudo. E vibra forte no ouvido aquela voz filha da puta, voz de tarja preta, quase arrancando os tímpanos do louco. E ficava louco louco louco, mais louco que tropofonia. Girava inteiro em sentido horário, suicida girando em sentido horário. Fazia macumba, abria o tarot, acendia vela pra Nossa Senhora, jogava flor pra Iemanjá, pagava o dízimo da Batista, frequentava grupo ateu. Morto morto morto, Roleta Russa na cabeça, morto no Brasil. Esperança nenhuma, deus nenh

São Jorge no escuro.

Aí eu apaguei as luzes e fiquei toda no escuro. E eu não enxergava nada, nadinha. Nem palavrão podia falar. Nem porra de palavrão podia. E a gente sempre tem uma vontade bem grande de falar palavrão no escuro. E, no escuro, nem dá pra saber se é palavrão ou palavrinha. É alguma coisa. Tudo daria em merda, no escuro. Mas eu andava sabendo o lugar em que cada móvel estava. Tão fácil andar no escuro, em casa. "Não é escuro, é falta de luz" como se houvesse diferença. Não há, não. Aí vai fazendo as coisas cada vez mais rápido, mais rápido, até não se ver mais o que faz. Bumbum virado pra lua. São Jorge olha teu bumbum. Dizem que é sorte quando São Jorge olha teu bumbum. Fica feliz, ironia não te acompanhou. Vai amar no escuro também. Vai ter que andar na casa do vizinho, no escuro. Vai ter que andar pra ninguém perceber. Vai jogar lixo na rua, ficar bêbado e dizer que não teve culpa. Vai, vai, vai. Vai xingar todo mundo, todo mundo, vai se xingar, vai meter a cara no espelho. Vai

Maravilha.

Alice andou no helicóide colorido, pensava que era escada, mas nem era. Saiu correndo atrás do coelho branco, e o coelho não aparecia. Coelho tinha relógio, Alice tinha sonho. Sem porra de chapeleiro, Alice não tinha mais paciência para isso. Alice era muito impaciente. Mal cabia em si, tomou suco e cresceu. Alice, toda de azul, toda de branco, era Alice do mesmo jeito. E se Alice morrer? O país das maravilhas continua igual. Nem cortaram sua cabeça: nem havia cabeça. Flor vermelha, flor branca, Alice nem gostava de flor. Mas Disney pediu pra fingir. Tudo bem, ela fingia. Alice nem era doce. Alice só tinha sonho, tem que ser doce pra ter a porra de um sonho? Não, não tem. O sonho de Alice era coisa boba, não era nada tão extraordinário quanto casar, ter filhos, boa vida profissional e morrer. Alice, Alice, não chore assim. E se afogou em lágrimas. Lágrima dela, choro dela, tristeza dela. Era Alice no país das maravilhas, meu bem. Maravilha de cortar cabeça, de chapeleiro maluco, de gat

À prova d'água.

"- Tô pronta", disse. - Mas você não usou o pó. "- Tô pronta", repetiu. - Mas você não usou batom. Está pronta para quem? - Pra mim. Tô pronta - repetiu -, sou mulher. Sou mulher de várias faces e nenhuma maquiagem. Sou mulher de vários olhos e nenhum rímel. Sou mulher rosada e nenhum blush. Sou mulher à prova d'água. Sou mulher embaixo d'água. Sou mulher. - Você não pode sair assim, sem máscara. - Quem disse que não uso máscara? A melhor máscara nem se vê, querida. Minha máscara é mulher. Tô pronta pra sair. Tô pronta pra entrar. Tô pronta pra abrir a porta. Tô pronta pra ser porta. Tô pronta. E não há mulher que tenha demorado mais do que eu. Ser mulher exige. E passei por tanto para falar que tô pronta, assim, sem "estou pronta", assim, no coloquial, assim, sem falácia de programa de tv. Assim: tô pronta. Desse jeito. - Mas você só fala do passado. Nunca do que virá. Mas, vamos, estamos atrasadas. Que horas são? - Quinze para as dez.

Elisa.

Coloridinha e vermelha como rosa nascendo. Toda coloridinha e vermelha, asas para fora, voando toda vermelha. Sangue saía, ninguém via. Sangue jorrava, ninguém via. Sangue chorava, ninguém via. Era toda vermelha e coloridinha. Podia voar, mas andava. Podia boiar, mas nadava. Podia correr, mas sentava. Limite não tinha, mas criava. Rimar não podia, mas rimava. Sentou no banco, em frente à grama, e parecia toda desiludida. Toda coloridinha e vermelha e desiludida. Mas ela nem estava desiludida. Elisa fingia só para atrair. E atraía errado. Elisa: nome de cantora que finge não ter voz. Elisa: queria Êlisa, mas era Élisa. Elisa: dona de um cachorro que dormia, quando ela chegava. Elisa tinha cachorro, mas não brincava. Elisa queria que o cachorro fosse gente, assim, ser humano, como ela. Elisa não comprava ração, comprava galinha. Cachorro virava gente, dormia, mordia, e Elisa reclamava. Seu cachorro se chamava "o cachorro". Se chamassem Elisa de "pessoa", e

Logo Maria.

Maria andava e parava, andava e parava, não corria. Maria, Maria, Maria. Três vezes Maria. Ela tinha mania de chamar os outros de "Maria", apenas por ser chamada assim. Mas muitas Marias respondiam. E Maria não sabia decidir. Maria saiu de casa, saiu com o pé direito - superticiosa que era -, e foi à esquerda. Entrou na padaria. Ouve-se "Maria, você na padaria? Logo Maria, que não sai de casa. Logo Maria, que demora horas decidindo com qual pé sairá. Logo Maria, que só sabe começar com o pé direito, mas o esquerdo tem boca". Mas Maria não queria sair. Ela ficaria o resto da vida trancada. Maria não queria escolher o pé. Maria queria se chamar Maria, sem mais, nem menos. Maria teve epifania. E, feliz, falou "quero quatro pães". Maria nem pensou mais. E saiu. Com o pé esquerdo.

A Branca.

Até que Branca de Neve se acostuma a comer a maçã envenenada. Até que Branca de Neve gosta de morrer da maçã envenenada. É um perigo dar veneno à Branca: ela gosta. Branca bebendo veneno vermelho. Branca sangrando veneno. Branca vai às nuvens e não se sabe mais quem é Branca. Mas há muita bagagem, há muita. Há tempo para perder lembrando, há tempo para se tornar burra ou inteligente. E, pra todo lugar que Branca ia, ela levava sua mala. E ia enfiando coisas lá dentro - tinha que caber -, e insistia em não tirar outras. Outras iam caindo, ela nem percebia. Branca se achava tão boba, tão boba. Branca gostava de detalhes, coisas pequenas - perceptível pelos sete anões. Branca, tão branca. E Branca morde a maçã, de novo. E sangra em veneno. E Branca enfia a maçã na mala. E vai embora.

-

A gente se acalma - a gente sempre se acalma. Grande bobagem. Eu derrubo a cadeira, e levanto. Há coisas pequenas e bonitas. Mas minha cabeça, às vezes, não cala. Eu me calo quando minha cabeça fala demais. Mas, pensei, não há tempo para falar e tempo para ficar calado. Há momento. E momento é diferente de tempo. A gente não precisa contar os dedos das mãos dos outros. Mão é confiança. Vou andar lá fora. Estou calçando as sandálias - mas o pé é grande.

Eu.

Eu, que de tão apressada, esperei. Eu, que de tão desesperada, sentei. Eu, que de tão feliz, chorei. Eu, que de tão triste, brinquei. Eu, que de tão controlada, surtei. Eu, que de tão louca, aconselhei. Eu, que de tão calada, falei. Eu, que de tanto esperar, achei. Eu: essa que te ama, que te espera, que te diz. Eu: essa que te adora, que apavora, que é feliz, também. Eu, que não gosto de rima, rimei. Eu, tão louca, tão vai, tão volta, tão entre, tão saia. Eu, a que rima, que briga, que chora, que aflita vai embora. E volta. E volta. E volta. Vou me guardar pra mim, vou me amarrar no laço, vou me embrulhar, vou me presentear. Como um vídeo de trás pra frente. Vou me enrolar, vou me inteirar, vai ser assim. Vou me proteger, viver até morrer. Vou cantar, vou gritar e, enfim, dizer.

Etc.

Cinco letras. Cinco vezes doce. Cinco dias úteis. Luluzinha. Cinco mais três é oito. Três é bonito. Três lembra brinco. Hoje disseram que sou louca, confusa. Já me disseram outra vez. Tenho mesmo a mania de querer e não querer, ir e não ir, bláblá. Mas a gente vai pra o raso do mar e, quando percebe, já está se afogando. Nem se percebe, eu acho. Quando ela estava se afogando, ela não era a mesma. Era só uma mulher afogada. Cabeça dentro d'água, pés, mãos, ela estava virando água também. Mulher afogada foi achada. É mulher, não se sabe o nome, não se sabe nada. Não se sabe se mulher decidiu se afogar. Não se sabe se afogaram a mulher. Não se sabe se mulher se afogou sem querer. É, porque mulher tem mania de se afogar sem querer. Não era peixe, não era sereia, era mulher. Não era só do sexo feminino, era mulher. Sabe? Já que é pra exagerar, vou pedir um copo vazio e encher de água. Acho tão mágico isso, de estar todo mundo no mesmo lugar. Todo mundo, assim, mesmo que a gente não conh

Espátula.

Não sei. Faz parte. Que nem cereja faz parte do bolo. Pode comer todas as cerejas, detesto aquelas bolinhas vermelhas. Cereja é bonita, mas, quando a gente bota na boca, é ruim. Disseram que, às vezes, é até chuchu. E eu sinto que o povo gosta é do chuchu-falsa-cereja. Mas eu nem sei partir um bolo. Primeiro pedaço, colocar no prato, nada disso é para mim. E já passei por uma quantidade de aniversários suficiente para aprender a cortar o bolo. Mas eu não sei me sentir aniversariante: a que corta o bolo. Cortar um bolo é tão difícil pra mim. Tão mais bonito quando inteiro. Mas não deixe de fazer o que está fazendo. O aniversário é teu, a responsabilidade do bolo é tua. Talvez eu não goste de responsabilidade. Ou só não goste de cortar um bolo. Vou cortar dois. Não gosto destas misturas, como chocolate com morango. Tem coisa mais nojenta? Tem. Chantilly, outra coisa que não gosto. Parece bom, mas enjoa. E eu detesto coisa que parece boa e enjoa. Mas, se enjoa, é porque já foi bom. Mas Ch

Tic Tacs e Sofia.

Eu vi uma menina - que é diferente de "menininha" - sentada no chão, ao lado da escada. Havia um monte de crianças brincando, umas correndo, outras sentadas. Elas quase tropeçavam em mim. "Vá brincar também, meu amor" disseram. "Não quero" respondeu. E eu nunca vi olhar mais triste do que aquele. Só o meu. Eu pensei em sentar ao seu lado e fazer companhia, se ela quisesse. Mas eu não fui. Eu não sei por quê. Mas não fui. Penso: eu deveria ter sentado, perguntado por que ela não brincou, dito "sei como é", - verdadeiramente falando - feito algo que a confortasse, não sei. Ela tinha tic tacs coloridos na cabeça, como quem se arruma tanto para nada. "Eu sei como é, menina. Eu nunca fui como as outras. Ou fui e não me permitia ser. Faça o que quiser, menina. Você só deve ser feliz. Se quiser ser triste, seja no futuro. Agora, com a pouca idade que tem, - e eu não tenho muita - deve fazer coisas boas, pra lembrar delas." Eu diria. Estou um p

Que ela pede tanto.

A gente no topo da escada, tá tudo bem. Quanto mais se desce, mais dói. Quanto mais se desce, mais se quer descer. Você é simples. Você sabe que é simples. Aí a sua simplicidade dá de cara com a simplicidade de alguém, e tudo se torna complicado. Você sabe o que quer. Você sabe que sabe o que quer. Há algum "mas", "entretanto", "porém", blá blá blá. E, por isso, existem os "apesares". Mas tua alma pesa. Tua alma tem o peso da tua crueldade de dois anos atrás. Tua alma tem o peso do teu arrependimento de ontem. Mas se você não tiver alma, não tem problema. Será que alma tem cãibra? Animação na tua voz foi embora. E agora? Mas eu não sou louca, me poupe. Ninguém é. Tem gente que ouve vozes, tem gente que vê coisas, e é claro que não se pode controlar isso. Não sou desses, mas a gente sempre tem momentos de descontrole. Nada disso se chama loucura, não. São cérebros diferentes, apenas. Ninguém é louco. Louco a gente fica é de amor, de raiva, do exte

-

Sou uma andorinha azul. "Andorinha", palavra mais comum, né? Também acho. Mas sou andorinha azul, ninguém escolhe. Andorinha anda calma e alegre. Mas eu buscava algumas coisas tão pequenas. E eu já tenho. Sim, eu tenho. De pó vermelho, sandália prateada, risada, telefone, barulho, silêncio. Já tenho. "Mas não provoque o leão e depois saia correndo" pensei. Que bobagem. Mas não vou me repetir, de novo e de novo. Lembrei agora dos tipos de sonhos que geralmente tenho. Sonho que Freud é Freud, se transforma em Clarice, e usa a aparência do Schopenhauer. Foi um exemplo, sim. Mas acho que sonho imita a realidade, às vezes. Se não for sinônimo dela. Um pode se transformar em dois. Ele se transforma. Ela se transforma. "Mas você está tão diferente, tão diferente" dizem, infinitas vezes. Realmente não quereria estar igual. Mas. Não deu saudade. Isso é possível? É. Agradável. Saudade não deu, não. Mas eu sei que, se olhasse pra você de novo, eu seria a mesma para s

Quero.

Eu tenho me prometido, meu bem, eu tenho me prometido nada. Mas ando azul, fugindo de trovadorismo. Será? Não sei. Há algo errado por aí. Hoje é domingo, eu nem gosto de domingos, mas eu gostei de hoje. Passei o dia lendo, criei alguns interesses em coisas que já foram tão chatas para mim. Mas, de ler, eu sempre gostei. Quero simplicidade. Quero lacinhos - no diminuitivo - rosas, em cima de uma cama, lençol branco, tudo claro. Quero amarrar cortinas, pôr a cabeça na janela e sentir. Quero sorrisos, quero rir até a barriga doer. Quero simplicidade. Quero mel, quero potes com mel, quero cerejas, - mesmo não gostando de cerejas - quero nuvem, carta, quero verdade, saber, entender, trocar, falar, sapatos-cor-pastel, ruas à tarde, andar devagar por vontade, quero branco pérola, quero me sentir, quero chorar por uma coisa só. Quero intensidade, sinceridade, cumplicidade, - essa palavra é o símbolo do clichê, mas não lembro de um sinônimo, no momento - quero "ade", quero cabelo-ao-v

Desconexo.

Lembrar de algo, e pensar apenas "era legal", é tão estranho. Sim, porque é estranho lembrar de laços e saber que foram desatados. Tanta gente que foi, tanta gente que passou, deu um "oi", trocou palavras e foi embora, pra conhecer mais um tanto de gente assim. Mas teve gente que ficou. Não significa que, quem fica, nunca mais fechará a porta. Talvez sim. Mas, indo, deixa um pouco conosco. Clichê, é. Verdade, também. Porque entre laços existem manias, palavras, olhares, sorrisos, segredos, troca. Entre laços, há muito. Entre abraços, há mais. Mas falei de abraços, não de "tocar no ombro", não de "beijinhos-de-um-segundo-na-bochecha". Quero liberdade pra ficar em silêncio. Quero liberdade pra não ter medo. Quero liberdade pra dispensar certas bobagens. Quero liberdade, liberdade, freedom, blá blá blá. Quero liberdade de estar junto, tão junto, que se é o outro. Mas eu tenho fome de descrições, me diga as cores, me diga o ambiente, me diga a época,

Mas.

- Sabe, amor, começarei assim. - Como? - Assim, desse jeito que já começamos. - Casal da rua ao lado já está todo feliz. - Casal da rua ao lado já está, em todo. - Tum tum tum, estão batendo à porta, coração bate junto, a campainha toca, beijo, abraço, dou tapinha nas costas, em tua roupa me amasso, dou um laço e vou embora. - Mas eu queria tudo junto, como "havia dito que iria te dizer". - Entre no clima, querido. Não substitua a fumaça do café com o teu gelo seco. De quente pra frio, de baixo pra alto, de gordo pra magro, você é insubstituível, como o espaçoentreaspalavras. - Mas deixa as ondas seguirem, o sol chegar, a lua voltar, a luz entrar, deixa. - Eu não sei deixar. Eu não sei esperar. Eu quereria poder mover tudo a meu favor.  - Mas a gente não é herói. - Herói não precisa mover tudo, herói só precisa voar. E, voar, eu vôo. Mas eu escolhi a música errada, as teclas erradas, as notas erradas. E a única nota que sobrou foi zero. - Não seja tão pessimista.

Cor: ação!

"Sou um coração batendo no mundo " repentinamente, lembrei desta frase da Clarice. Somos todos corações batendo no mundo. Mas, um dia, deixaremos de ser. E o que seremos depois? Apenas seremos, - agora, prepare-se para o lugar-comum - "descansando em paz"? Particularmente, creio que não seremos mais nada. Enfim, quero apenas comunicar o quanto fiquei surpresa, ao lembrar da frase da Lispector. Descobrir - ou redescobrir - que somos um coração batendo, entre tantos outros, é lindo. É lindo lembrar que temos sangue. Sangue que pulsa, circula. É lindo lembrar que acontecem tantas reações, das mínimas às máximas, enquanto apenas escrevo, por exemplo. É lindo lembrar que tenho memórias boas e ruins. É lindo saber que posso ter memórias, que o que vivo hoje poderá ser lembrado amanhã, - a não ser que eu consuma um alto nível de álcool: ato que não farei - que posso, igualmente, esquecer de algumas coisas, e me sentir tão bem ao lembrá-las, como da frase citada. É lindo l

Aleatório.

Não, eu não quero mais beber da fonte envenenada. Fonte maldita, odeio você, fonte, odeio odeio odeio, tantas vezes odeio. Mas eu não odeio sua água. "Seja forte!" diga isso a um fraco. O problema é que tenho sido forte por muito tempo. Às vezes, não aguento mais ser forte. Olhe-se no espelho, veja que você é a mesma de sempre, quando chora. Mas, quando acaba, a ursurpadora volta. E eu que não consigo seguir o rumo de me colocar no lugar dos outros, agora. Na minha pressa, não soube esperar seis segundos. Talvez falte animação, ou talvez eu só precise de livros novos. Ando, como quem anda com uma faca exposta e a guarda, para não ferir a si mesma. Isso não foi literal, não se preocupe. Penso: vida talvez seja prender-se nos trezentos e sessenta dias do ano, e ser livre nos outros cinco. Esses são os verdadeiros feriados. Que tal tirar folga de mim? Não sei se consigo. Usurpadora não deixa. Que brega, tudo isso. "P orque há o direito ao grito, então eu grito." dizia

Woody Allen, etc.

Estou eu no meu velho silêncio. Velho, sim, por mais que não o use com tanta frequência, sempre está no mesmo lugar. Mas estou ouvindo o barulho de crianças brincando no prédio vizinho. Ontem, eu senti um dos cheiros da minha infância, ao ir à janela. Não sei de onde viria esse cheiro, - tanto há anos, quanto atualmente - mas eu gosto. Eu tenho forte sinestesia, desde que minh'alma habita meu corpo, - sim, peguei mania de escrever "minh'alma", apesar de nem saber se existe uma - enfim, desde o meu sempre. Este blog está parecendo um diário, ultimamente. Mas sem desabafos diretos, apenas com o que sinto. E eu que sempre detestei diários. Estou lendo "Cuca Fundida", do Woody Allen. É um bom livro, divertido também. Nunca havia lido o Woody, apenas visto seus filmes, igualmente bons. Aliás, adoro falar "Woody". Lembrei agora de uma frase, do Guimarães Rosa, "Viver é etcetera". Sempre gostei, mas nunca entendi totalmente sua essência. Não foi