São Jorge no escuro.

Aí eu apaguei as luzes e fiquei toda no escuro. E eu não enxergava nada, nadinha. Nem palavrão podia falar. Nem porra de palavrão podia. E a gente sempre tem uma vontade bem grande de falar palavrão no escuro. E, no escuro, nem dá pra saber se é palavrão ou palavrinha. É alguma coisa. Tudo daria em merda, no escuro. Mas eu andava sabendo o lugar em que cada móvel estava. Tão fácil andar no escuro, em casa. "Não é escuro, é falta de luz" como se houvesse diferença. Não há, não. Aí vai fazendo as coisas cada vez mais rápido, mais rápido, até não se ver mais o que faz. Bumbum virado pra lua. São Jorge olha teu bumbum. Dizem que é sorte quando São Jorge olha teu bumbum. Fica feliz, ironia não te acompanhou. Vai amar no escuro também. Vai ter que andar na casa do vizinho, no escuro. Vai ter que andar pra ninguém perceber. Vai jogar lixo na rua, ficar bêbado e dizer que não teve culpa. Vai, vai, vai. Vai xingar todo mundo, todo mundo, vai se xingar, vai meter a cara no espelho. Vai quebrar tudo, vai se quebrar, vai estragar e achar que é um filme. Mas não é. Não tem roteiro, diretor, blábláblá. Não tem nothing. Tem você e outras coisas. Tem outras pessoas, uns cigarros ali, umas fotos aqui. No fim, só tem você. E não é filme, não. Não ficou ninguém no cinema pra te ver, não. O diretor não gostou de você: chamou um ator melhor, mais sorridente, dentes mais brancos. Você, coitado, ficou com os dentes amarelos de cigarro se olhando no espelho quebrado. Que pena. Pena pena pena. São jorge não te olha mais. Como dói, querido, dói pra cacete não poder falar palavrão no escuro.
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Obs.: eu não gosto de escrever textos com palavrões e colocar no blog. Mas a luz está acesa, aqui.

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