Essência

sou toda de dores e
pudores
mas também de amores sou
feita
e de rimas perfeitas em
breguice
quem foi que disse que
preciso ser coerente?
não me engano e sou
crente quando digo:
não sei ser clara de
propósitos
eu sou sozinha e
adormecida
nada me dói
nada me revive
só quero estar sozinha no
meu cubículo
lido melhor comigo e com
meus dilemas do que
com os problemas que não
me habitam
e no fim talvez eu seja
um cão
um viralata
consumido
pelos dias em que
não sabe o que se é
direito
se vítima ou suspeito
do seu próprio crime:
nasci
sem explicações
e gosto de estar
na minha

sou narcísica
marciana
esquisita
sou parasita deste corpo
que
não
me
pertence
e dói um pouco
acordar todos os
dias
e ver que existo em
mim
que viver é mesmo uma
dor sem fim
e que adormecer
não me trocará os olhos
nem os ouvidos
e que os dias vividos
num outro dia se
perderão
na história da
memória
nas rimas sem
compromisso

sou rebuliço
de agonias desde a
entranha
e permaneço dormindo
só acordo quando caio
ao chão
frio
gélido
pesado com o peso das
manhãs que sempre
sempre
se repetem
como num parto dourado
de arrependimentos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A noite

Só.

Duas às nove.