Contradições do ódio

Eu gosto do meu relógio só por não ser eu
Mas, ao gostar, imprimo meu afeto
E preciso odiá-lo, então, porque me odeio.
Odeio não só o meu todo,
Mas todas as minhas partes;
Todas as coisas tocadas pela minha mão;
Todos os objetos mirados pelo meu olhar;
Eu me odeio antes de existir;

Odeio o mundo que viera antes de mim,
Por me gerar,
E criar parte do que sou;
Odeio o mundo em que existo
E odeio os mundos em que não existo,
Só por criá-los ao pensar
Em não existir neles.

Fujo de tudo,
Mas sempre me encontro,
Num eterno retorno,
Obrigada a me amar,
Só por me odiar tanto,
E ainda faço tudo verdadeiramente
Ao mesmo tempo
E em completude.

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