Das solidões de um domingo

Olho pela janela da sala
Na madrugada entre um domingo e uma segunda
Entre o corte de uma faca e o buraco de uma bala profunda
Entre um morto desmaiado e uma viva moribunda
Olho pela janela desta sala
A árvore que igualmente cala
A folha que o silêncio exala
Na outra bate, como em combate
À calma chata de uma noite adormecida
“Alguém me mate!”, grita o carro, desligado, na avenida
“Alguém me mate!”, grita a calçada, sem pegadas, nem vestígios
“Mas já sou morto”, atesta o banner, se rasgando, sem prestígio

Olho pela janela desta sala
Uma noite que, aos poucos, me apunhala
E confirma que as coisas são só coisas
Que as ruas são só ruas
Que o vento é só vento
E que eu sou só eu
Num escuro breu
Perdida num apartamento.

Postagens mais visitadas deste blog

A noite

Só.

Duas às nove.