Vocês não sabem.


Vocês não sabem. Eu me sinto bem, eu sinto o cheiro, eu lembro o cheiro, a cor, a sensação, mas vocês não sabem. Eu ouço a risada, eu sonho e não rio pra fora. Eu rio por dentro e, mesmo assim, choro. Eu choro, mas vocês não sabem. Eu mantenho minha boca fechada, guardo minhas ideias e opiniões, meus pensamentos, minhas piadas, minha gargalhada gigante, meus xingamentos, minha safadeza, meus medos, minha inocência, boto uma cara séria, e vocês não sabem. Vocês não sabem quem eu sou, do que eu gosto, do que eu não gosto, o que eu faço e o que eu não faço. Vocês me julgam, analisam e criticam, não acho que me apreciem. Vocês não sabem. Vocês "vivem a vida", e, pelos seus padrões, eu não vivo - eu sou diferente e seguro um livro. Vocês não sabem. Vocês não sabem que eu não gosto de boate, que não sou inconsequente como imaginam, que minha cara, muitas vezes, é feita de madeira, que detesto física, que gosto da Marilyn Monroe, que adoro fazer rir, mas ninguém ri. Ninguém ri, porque eu não me permito abrir a boca. Eu sumo e, em meu lugar, entra alguém que eu não conheço. Talvez vocês nem mesmo saibam que meu nome só possui um "l". A culpa não é minha, nem de vocês: não há culpa. Eu os amo, mas vocês não sabem. E talvez nunca saibam.

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