Como se fosse Marlene.

Corria toda florida, olha só, toda florida Marlene corria. Às vezes, achava que não existia, que não era ela. Eu lembro de você revirando aquelas fotos no Sábado, fingindo que não era você, que era outra. Eu estava aí dentro da sua cabecinha, o tempo inteiro, não é? Olha pra teu lado e vê o espaço que eu deixei. Você tá toda esburacada, Marlene, presta atenção. Faz algo certo nessa tua vida, deixa ela azul, sei lá. Já sei! Vai pra o mar, pra fazer jus ao teu nome. Que tal? Você naquele sol bonito. Mas eu te conheço, estragaria tudo com teu bom humor. Então, faz assim: lê. Já pensou em ler? Ver filmes, não sei. Alguma coisa que preencha esse oco aí de dentro. Mas não me mete nele de novo, certo? É apertado, é confuso ficar na sua cabeça. Eu nem cobro lembrar do seu primeiro aniversário, o primeiro brinquedo, a primeira roupa. Você nem precisa saber o que comeu hoje, juro. Você nem precisa saber se todo mundo tem a mesma natureza que a sua, se todo mundo se dói, nem o que quer ser no próximo ano, o que vai dar no horóscopo de amanhã, nada disso. Eu sei que é a mesma quando pinta o cabelo. Marlene, eu não gosto de você. Eu não sei ficar sozinha com você. Você me agonia, me arrepia, me entedia totalmente. Aí eu te busco nos outros. E, quando acho, fico feliz. Porque aí eu me sinto muito menos sozinha. Sabe que meu nome é Marlene e eu escrevi pra mim e isso não muda nada. Agora eu durmo, e reencontro uma Marlene nova quando acordar. Vou mandar um beijo pra ficar mais bonito: beijo.

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