O pé de feijão do João.

Solidão não me acompanha mais, não. Largou da minha mão e foi embora. Não queria soltar, não queria, mas olhou pra mim e desistiu. Solidão quer seus dentinhos pra dentro, assim, bem guardados, quer sua cabeça baixa e sua cara tristinha. Quer que force a tua risada quando a mandarem embora. Quer que mude a tua cara quando sair. E não solta. É leal, gruda no teu pé, que nem chiclete rosa jogado na esquina. Mas solidão tem boa intenção: quer mostrar que tu não estás sozinho. Como o leão que te morde pra mostrar como os dentes são macios. Solidão é ímpar. Não tem par, não tem pé, não tem cabeça. Solidão te tem e só. Sol não brilha mais, vais achar que sol nunca brilhou. Estrela não brilha, pôr do sol tem-todo-dia, cometa não realiza pedido, São Jorge não mora na lua, horóscopo não muda coisa nenhuma, teu dente ainda espera a fada embaixo do travesseiro, Papai-Noel não tem renas, Julie Andrews não voa com um guarda-chuva, mas veste Prada. Vida é coisa engraçada. E, quando notares, terás ido embora. E estarás morto, sem ser jogado a sete palmos debaixo da terra. Deixa o pé de feijão do João crescer, que mal não faz, não.

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