Meu.

Eu estava deitada como de costume: pés nos travesseiros e cabeça no "final" da cama. Minha mãe passou pelo quarto e, como de costume, falou: "Você é toda avessa, hein?" A partir disso, pensei: coloco a cabeça onde deveria colocar os pés, e vice-versa. Então, será que meus pés é que pensam por mim, e minha cabeça anda, seguindo-os? Será que ando e depois me sigo? Desde quando é assim? Desde quando eu sou? Quando eu sou? Eu sou? Sou? Se sou alguma coisa, sou nostálgica. Demais. Para fazer jus ao rótulo, gosto muito de fotos, principalmente as antigas. Outro dia, peguei um dos álbuns da infância e olhei. Havia uma foto do meu aniversário de um ano, meu primeiro. Era a primeira vez em que eu via um bolo, feito para mim, enquanto tanta gente me olhava e cantava uma canção desconhecida até então. Era meu primeiro ano de idade, e eu não sabia nem quem era. E, agora, com dezesseis anos, continuo sem saber, apesar de já conhecer o bolo e a canção. Enfim, me observei. Olhei o mais fundo que pude nos olhos daquela criança que era eu. Eu vi. Não sei o que vi, mas eu vi. Olhei alguma coisa, tomei um choque, uma surpresa, como se me fosse revelado um mundo novo, um arco-íris bem de perto, como se eu pudesse ver uma gota de chuva por todos os ângulos possíveis. Eu era, meu Deus. Eu era eu. Eu não precisava saber o que era, para ser. Eu simplesmente era alguma coisa, alguém, um olhar preto, um vestido branco, pequena, mãos pequenas, pés pequenos e meus olhos eram grandes. Não os olhos, em si, mas o que eles enxergavam. Eu sorria com a pelúcia, chorava ao ficar sozinha. Eu era instinto e desejo. Isso é o que chamam de inocência. Aprendi a me controlar, o que não significa que a criança morreu. Ela só viciou no esconde-esconde. Mas a expressão era a mesma. Alguma coisa não mudou, é certeza. Sei lá o que é ou qual o nome, mas alguma coisa sempre foi, é e sempre será. Acho que fiquei presa naquelas fotos. Não só nelas, como em qualquer outra. A câmera me pega, me para e me retrata. Sou eu ali? Parei ali? A foto é a junção de todos os momentos vividos e parados naquele? Ou é, simplesmente, aquele? A cada foto, fui me parando, e me mudando, e me diminuindo? Cada instante me pegou, me puxou e não devolveu. O que me consola é que algo ali é meu, e ninguém rouba, não. Eu olhei nos meus olhos, e foi isso que ela me disse.

Comentários

  1. "O que me consola é que algo ali é meu, e ninguém rouba, não. Eu olhei nos meus olhos, e foi isso que ela me disse."

    Adorei =]

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  2. Só assim percebemos como o tempo passou depressa, não é?
    Queria poder voltar a infância! ^^

    ;*

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