Do que não sou

Amanhece
E e o céu está azul bebê
Acabou de nascer
Com nuvens de algodão
E esquinas perigosas
Sempre perigosas
Não importa a hora
Almas ruins adormecem e acordam
Sem paralelismo
(às vezes, a casa é mais perigosa
do que a rua)

Eu deveria estar dormindo
Ter lido mais cedo
Ter seguido horários
Ou, do contrário,
Ter feito o que quero
Fiquei no meio, porém,
E me fiz refém
Do meu próprio mistério

Agora, os pássaros piam
Imitam corvos
E gritam que nunca mais
Nunca mais vou me ajeitar
Vou sempre escrever antes de dormir
E dormir na hora de acordar
E endoidar antes de tudo
Mas, depois, voltar a ser normal

A pena é que descobri
Que gente normal não ouve
Corvos falantes,
Nem mesmo pássaros que piam,
Porque dorme
E um toque de alarme basta
E não se atrasa nunca

Eu adoraria voltar,
Ao menos por um dia,
A ser muito normal
Mas eu não volto a ser
O que nunca fui

E eu prefiro olhar o meu pé
Rosinha,
Pela luz do sol que entra
Pela janela
Quando eu deveria estar
Dormindo.

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